O dólar passou a operar em queda ante o real nesta sexta-feira, 23, após operar em alta, cotado acima dos R$ 5,70, com o mercado repercutindo o anúncio pelo governo na véspera de aumento nas alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), com um recuo parcial da iniciativa detalhado nesta manhã.

+Recuo em parte de medidas sobre aumento do IOF reduzirá ganho de arrecadação em R$ 6 bi

Às 12h09, o dólar à vista recuava 0,58%, a R$ 5,686 na venda.

O Ibovespa também opera em baixa desde os primeiros negócios desta sexta-feira, perdendo o patamar dos 137 mil pontos, em meio a um ambiente externo mais negativo, com queda de commodities e dos futuros acionários nos Estados Unidos, enquanto agentes ainda repercutem anúncio de contenção de gastos e aumento do IOF na véspera.

Às 12h11, o índice referência do mercado acionário brasileiro caía 0,29%, a 136.878,23 pontos. O contrato futuro do índice com vencimento mais curto, em 18 de junho, tinha acréscimo de 0,13%.

O governo anunciou na tarde de quinta-feira elevações do IOF com impacto sobre empresas, operações de câmbio e previdência privada, com previsão de arrecadação de R$20,5 bilhões em 2025 e R$41 bilhões em 2026, medida que, ao lado de uma contenção das despesas orçamentárias também anunciada na quinta, contribuiria para o cumprimento da meta fiscal de déficit zero neste ano.

Durante a noite, entretanto, o governo recuou de parte das medidas anunciadas, em mudança que deve reduzir o ganho de arrecadação em aproximadamente R$6 bilhões até 2026. Um novo decreto foi publicado na manhã desta sexta-feira no Diário Oficial da União.

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a revisão pontual se deu para evitar “especulações” sobre uma inibição de investimentos ou outras mensagens que divergissem do objetivo do governo.

“Nós entendemos que, pelas informações recebidas, valia a pena fazer uma revisão desse item para evitar especulações sobre objetivos que não são próprios da Fazenda nem do governo, de inibir investimento fora, não tinha nada a ver com isso”, afirmou mais cedo em pronunciamento à imprensa.

De acordo com analista ouvido pela Reuters, a reação negativa do mercado ao anúncio, que pressionava o real nesta sessão, tem relação com a comunicação da medida, e não necessariamente com o conteúdo em si após os recuos.

O governo fez o anúncio no mesmo dia que divulgou o bloqueio de R$31,3 bilhões em despesas de ministérios a fim de garantir o cumprimento da meta de déficit zero e das regras do arcabouço fiscal.

“O governo encarou de frente uma questão difícil, relacionada ao ajuste fiscal, e sabemos da dificuldade e do desgaste político para isso. Novamente, por uma falha na estratégia de comunicação, o que era para ser bom ficou ruim”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

“Impressão nossa era que inviabilizaria o câmbio no varejo. Então, o mercado digeriu muito mal isso. Esse aumento de IOF soou como desespero e o mercado interpretou como uma tentativa de controle excessivo sobre saída de dólares do país”, completou.

Para Bergallo, a “correção de rota foi absolutamente bem vinda”.

No cenário externo, as tensões comerciais voltavam à tona após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmar mais cedo que seu governo pode impor tarifa de 25% sobre a Apple para iPhones vendidos mas não fabricados no país e que recomendou uma taxa de 50% sobre a União Europeia a partir de 1º de junho.

A política comercial dos EUA tem sido o grande fator para a tomada de decisões de investidores neste ano, com analistas temendo que as altas taxas de Trump sobre alguns dos principais parceiros comerciais possam provocar uma recessão global.

As preocupações fiscais com a maior economia do mundo também continuam no radar, após a Câmara dos Deputados dos EUA aprovar na véspera uma legislação tributária que pode acrescentar trilhões de dólares à dívida do país.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,60%, a 99,311.