Por Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar avançou ante o real nesta sexta-feira, em dia de ajuste após quatro quedas consecutivas e diante do fortalecimento da moeda norte-americana no exterior, enquanto, localmente, investidores seguiram atentos à cena fiscal.

O dólar à vista subiu 0,76%, a 5,1127 reais na venda, após pregão volátil, mas acumulou queda de 1,84% na semana.

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O economista Victor Beyruti, da Guide Investimentos, disse à Reuters que o dólar foi impactado por ajuste após série de quedas. “Tem algum ajuste, o real teve desempenhos muito bons nesses últimos dias, inclusive, melhor do que os pares”.

Agentes financeiros destacaram durante a semana que a entrada de recursos estrangeiros no país favoreceu o real, diante da reabertura da China e do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos.

O avanço do dólar globalmente –exibia alta de 0,15% contra uma cesta de seis moedas fortes e também subia frente à maioria das moedas emergentes– também endossou o movimento local nesta sexta-feira, em mais um dia de dados macroeconômicos importantes nos Estados Unidos, em especial de inflação.

O índice de preços PCE, o favorito do Federal Reserve (Fed) para sua definição de política monetária, avançou 0,1% em dezembro, repetindo o desempenho do mês anterior, enquanto o núcleo veio em linha com esperado pelo mercado.

Para Beyruti, o dado teve pouco impacto no desempenho do dólar no exterior, que viveu pregão de alívio.

“O dólar está tendo um dia mais forte hoje. A tendência de enfraquecimento (neste começo de ano), com expectativa de o Fed diminuir o ritmo da alta de juros e que o final do ciclo já está chegando, essa tendência continua, mas hoje parece ter um dia de alívio”, afirmou.

No mercado, a aposta majoritária é de alta de 0,25 ponto percentual pelo Fed na semana que vem, o que representaria nova redução no ritmo de aperto monetário, e depois apenas mais uma alta de igual magnitude. Essa projeção tem como base dados recentes dos EUA que revelaram sinais de arrefecimento na inflação e desaceleração econômica.

As atenções devem ficar voltadas para o que o chair do banco central norte-americano, Jerome Powell, falará logo após a decisão, na quarta-feira, principalmente declarações sobre a proximidade do fim do ciclo e o tempo que os juros devem ficar em patamar elevado nos EUA.

No Brasil, as conversas sobre tributação de combustíveis também estiveram em foco, diante do encontro do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com governadores. Lula disse a eles que a questão será discutida e ainda acenou com liberação de recursos via Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para obras nos Estados.

Uma comissão formada por representantes dos Estados e coordenada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará a negociação sobre a compensação aos Estados pela perda de receita com oneração de combustíveis.

Lei aprovada no governo de Jair Bolsonaro limitou o percentual do imposto a ser cobrado pelos Estados. Os governadores avaliam que ar perdas cheguem a 36,6 bilhões de reais, incluindo o segundo semestre de 2022 e o ano de 2023.

Além disso, Haddad afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico publicada nesta sexta-feira que a reforma tributária manterá a carga de impostos no nível atual.

À tarde, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, disse que a definição de qual patamar representará essa neutralidade ainda será feita. “É sempre neutra em relação a algo, neutra em relação a um patamar de receita que vai ser especificado. Temos que olhar um pouco para 2022, ou até 2019, que foi um ano que ainda não tinha atipicidade de receita. Está sendo discutido qual referência será utilizada”, disse.

O otimismo do governo com a aprovação da reforma tributária neste ano tem animado os agentes financeiros, mas ainda há ressalvas quanto ao texto e a capacidade de negociação com o Congresso.

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