O dólar subia de forma acentuada frente ao real nesta sexta-feira, à medida que investidores analisavam dados de inflação mais fortes do que o esperado no Brasil e novos anúncios de estímulo fiscal pela China que decepcionaram os mercados.

Às 10h09, o dólar à vista subia 1,43%, a 5,7572 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha alta de 0,88%, a 5,760 reais na venda.

Nesta sessão, o foco dos investidores se voltava para o cenário doméstico, com a divulgação de novos dados de inflação ao consumidor que moldavam o apetite por risco no mercado de câmbio.

O IBGE informou nesta sexta que o IPCA acelerou mais do que o esperado em outubro, atingindo uma alta de 0,56% em relação ao mês anterior, ante avanço de 0,44% em setembro. Economistas consultados pela Reuters esperavam alta de 0,53%.

Em 12 meses, a inflação subiu para 4,76%, de 4,42% no mês anterior, marcando a primeira vez desde janeiro deste ano que o índice de preços ficou acima do teto da meta perseguida pelo Banco Central em 4,50%.

O resultado gerava percepção de descontrole inflacionário no Brasil, levando investidores a descartarem a moeda brasileira em favor do dólar.

“IPCA acima da mediana. Isso puxa juros futuros e a novela do anúncio do pacote fiscal. Há uma grande expectativa do anúncio ainda hoje, o que amenizaria esse desconforto e poderia trazer algum alívio”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.

Na curva de juros brasileira, as taxas de DI apresentavam fortes altas, com os agentes financeiros apostando que o Copom precisará apertar ainda mais a política monetária para controlar a alta dos preços.

O mercado segue na espera do anúncio de um pacote de medidas fiscais pelo governo, que busca garantir a sustentação do arcabouço fiscal.

Na quarta-feira, o Copom elevou a Selic em 50 pontos-base, para 11,25%, e não forneceu orientação para suas próximas decisões. No comunicado, os membros da autarquia defenderam que o governo adote medidas fiscais estruturais.

O resultado do IPCA de outubro deve gerar pressão adicional para que o Executivo anuncie as medidas prometidas.

No cenário externo, moedas emergentes, como o real, também sofriam devido a uma nova decepção com os estímulos fiscais da China, que ajudavam a derrubar os preços de commodities importantes, com destaque para o minério de ferro e o petróleo.

“O governo chinês deve optar por medidas de auxílio graduais em vez de uma ‘bazooka’ de estímulos, o que pode dificultar a melhora do sentimento em relação aos países com fortes laços comerciais com a China, como o Brasil”, disse em nota Eduardo Moutinho, analista de mercados do Ebury Bank.

O dólar avançava sobre o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno.

Os mercados também digeriam a decisão do Federal Reserve na véspera de reduzir os juros em 25 pontos-base, desacelerando o ritmo de afrouxamento monetário após o corte de 50 pontos em setembro.

A semana foi marcada pela vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, o que impulsionou a moeda norte-americana devido à perspectiva de implementação de medidas prometidas pelo republicano que são vistas como inflacionárias por analistas, como tarifas e cortes de impostos.

O chair do Fed, Jerome Powell, indicou em coletiva de imprensa na quinta que o resultado da eleição não deve influenciar a política monetária dos EUA no curto prazo.

O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,13%, a 104,540.