26/08/2025 - 17:54
Após dois pregões de queda, em que acumulou baixa de 1,18%, o dólar subiu nesta terça-feira, 26, e voltou a se aproximar de R$ 5,45 na máxima da sessão. Operadores afirmam que o ambiente externo desfavorável às divisas emergentes, com o mergulho de mais de 2% nos preços do petróleo, abriu espaço para ajustes e realização de lucros.
A deflação mais tímida que a esperada do IPCA-15 de agosto, que reduziu as apostas em início de um ciclo de cortes da taxa Selic pelo Banco Central em dezembro, ficou em segundo plano no mercado de câmbio doméstico.
O dólar chegou a abrir em baixa e tocou mínima de R$ 5,40, acompanhando a perda de fôlego da moeda americana frente a divisas fortes, na esteira da tentativa do presidente dos EUA, Donald Trump, de remover Lisa Cook da diretoria do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).
O real, contudo, perdeu fôlego ainda pela manhã com o tombo das commodities, em meio a novas ameaças tarifárias de Trump contra China e Índia.
Após máxima de R$ 5,4495, no início da tarde, o dólar à vista fechou em alta de 0,37%, a R$ 5,4345. As perdas em agosto voltaram a ficar abaixo de 3%. No ano, o dólar recua 12,07%.
“Com a queda de commodities, principalmente o petróleo, as moedas emergentes estão sofrendo hoje. O real ainda está muito valorizado por conta do nosso juro muito elevado, que atrai capitais”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni. “Podemos ver o dólar subir quando o BC começar a cortar os juros.”
Em geral, o real costuma ser mais castigado em dias de enfraquecimento das moedas latino-americanas, mas nesta terça as maiores perdas ficaram com o peso colombiano e o peso chileno. No ano, a divisa brasileira exibe o melhor desempenho entre seus pares.
Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA-15, após alta de 0,33% em julho, recuou 0,14% em agosto – deflação menos intensa do que a mediana das estimativas de Projeções Broadcast (-0,21%). Casas ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) avaliaram que o IPCA-15 veio qualitativamente pior que o esperado e alertaram para a dinâmica de núcleos e preços de serviços.
Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Sousa Leal, o IPCA-15 foi um “choque de realidade” para quem estava otimista com a expectativa de inflação e reforça que não deve haver espaço para cortes na taxa Selic ainda neste ano.
Termômetro do comportamento do dólar ante uma cesta de seis moedas fortes, em especial euro e iene, o Índice Dólar (DXY) operou em alta moderada, com máxima de 98,563 pontos. O DXY recua 1,70% em agosto e 9,40% no ano.
Analistas afirmam que a postura errática da administração Trump, que ganhou novo episódio com o caso Lisa Cook, tem levado à depreciação da moeda americana, com investidores buscando alocação em outras divisas, em especial de países desenvolvidos, e no ouro como alternativa.
Trump anunciou a demissão de Cook na segunda-feira à noite, em carta na rede Truth Social, sob o pretexto de que a diretora cometeu fraude hipotecária, fato pelo qual ela não é investigada. O advogado de Cook, que, por ora, permanece no cargo, disse que entrará com uma ação judicial, uma vez que não está claro se Trump tem autoridade para demitir uma diretora do Fed.
À tarde, o presidente dos EUA disse que está preparado para uma disputa judicial com Cook e voltou a atacar o presidente do BC norte-americano, Jerome Powell, a quem acusou novamente de estar “atrasado demais” no processo de corte de juros.
“O ataque ao Fed agora com essa questão da Cook tem impacto no dólar, pois coloca em xeque a independência da gestão da política monetária”, afirma Velloni, da Frente Corretora. “O Fed está certo em ser cauteloso porque há risco de repique inflacionário com as tarifas de Trump.”