O dólar ganhou força ao longo da tarde desta sexta, 7, no mercado doméstico e encerrou a sessão desta sexta-feira, 7, em alta moderada, perto do nível técnico de R$ 5,80. Além da onda de aversão ao risco provocada pela notícia de que o presidente Donald Trump pretende anunciar tarifas recíprocas para parceiros comerciais dos EUA, pesou contra a moeda brasileira, na reta final dos negócios, declaração do ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, sobre um possível reajuste do Bolsa Família.

O novo episódio da novela das tarifas levou a uma rodada global de fortalecimento da moeda americana que acabou contaminando as divisas emergentes. Pela manhã, o real e seus pares latino-americanos avançavam a despeito de números fortes do mercado de trabalho e de piora das expectativas de inflação nos EUA. Temores de que a política protecionista de Trump resulte em pressões inflacionárias levam a uma redução das apostas em corte de juros pelo Federal Reserve neste ano.

Com a alta de commodities como petróleo e minério de ferro, o dólar tocou mínima a R$ 5,7354 na primeira etapa de negócios. No início da tarde, o real passou a se depreciar, mas apresentava ainda desempenho superior a de seus pares. O caldo entornou na última hora da sessão, quando o dólar superou R$ 5,80 e registrou máxima a R$ 5,8086, levando o real a amargar perdas mais fortes que as do peso mexicano.

Em entrevista à Deutsche Welle, o ministro Wellington Dias disse que pode haver reajuste do Bolsa Família até março, em resposta a alta dos preços dos alimentos. “Vamos tomar uma decisão dialogando com o presidente, porque isso repercute. Será um ajuste? Será um complemento na alimentação?”, pergunta Dias, para, então, admitir que mexer no valor do repasse “está na mesa”.

Fontes da equipe econômica afirmaram ao Broadcast que a declaração de Dias é apenas um ruído e que, além de não haver espaço orçamentário para um aumento no valor do benefício, a medida pioraria o quadro inflacionário.

No fim do pregão, o dólar era negociado a R$ 5,7936, em alta de 0,52%. Apesar do avanço de hoje, a moeda termina a semana com queda de 0,74%, após recuo de 5,56% em janeiro. A divisa acumula desvalorização de 6,26% no ano.

O economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, observa que, dado o tombo do dólar nas últimas semanas, havia espaço para uma realização de lucros no mercado local, que parece ter sido desencadeada hoje pela piora do humor no exterior com nova ameaça de imposição de tarifas por Trump.

Miraglia, porém, vê o movimento de apreciação do real em 2025 mais ligado a questões domésticas do que ao quadro externo, destacando que o índice DXY tem apenas uma leve queda no período. Para o economista, o comportamento da moeda brasileira reflete a perspectiva de “cenários alternativos” que se abrem com a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“O cenário base é o governo continuar a fazer o mesmo, negando problemas na questão fiscal. Mas cresceram alguns cenários alternativos, como Lula adotar uma postura mais amigável ao mercado, como fez em entrevista coletiva recente, em que defendeu a autonomia do Banco Central”, diz Miraglia, citando também a possibilidade de que surjam dúvidas sobre a saúde de Lula que alimentem a perspectiva de o petista não tentar a reeleição. “Se esses cenários alternativos crescerem, o dólar pode cair ainda mais.”

No exterior, o dia foi dominado por indicadores da economia americana e as ameaças trumpistas. No início da tarde, a Reuters informou que Trump disse a parlamentares republicados que teria planos de anunciar tarifas recíprocas possivelmente nesta sexta-feira. Em seguida, o presidente dos EUA disse que pretende impor tais tarifas na próxima semana, sem detalhar quais países poderão ser afetados.

Do lado dos indicadores, o relatório de emprego (payroll) revelou geração de 143 mil vagas nos EUA em janeiro, abaixo da mediana de Projeções Broadcast (170 mil), mas houve revisão para cima dos números de dezembro (256 mil para 307 mil) e novembro (de 212 mil para 261 mil). Além disso, a taxa de dezembro caiu de 4,1% para 4%, e o salário médio por hora subiu 0,48%, acima das expectativas.

Pesquisa da Universidade de Michigan trouxe queda do sentimento do consumidor na passagem de janeiro para fevereiro, mas aumento das projeções de inflação em 12 meses (de 3,3% para 4,3%) e para um horizonte de cinco anos (de 3,2% para 3,3%).

“Trump vai suar muito a questão das tarifas para negociar, mas vai fazer menos na prática do que o mercado espera. Ele deve, sim, adotar um programa muito forte de corte de gastos”, afirma Miraglia, da Integral, que espera retomada do processo de corte de juros pelo Fed a partir de meados do ano.