Apesar de reduzir os ganhos ao longo da tarde no mercado doméstico, o dólar encerrou a sessão desta quarta-feira, 12, em alta firme, acima de R$ 5,40, descolado do sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior. Embora tenha oscilado na segunda etapa de negócios à medida que investidores absorviam novas projeções de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e declarações do chairman Jerome Powell, o dólar teve seu rumo ditado pelas questões locais.

Cresce a percepção de perda de capital político do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fiador do novo arcabouço fiscal, e de piora da relação entre o governo e o Congresso. Na terça, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), devolveu a Medida Provisória do crédito PIS/Cofins, articulada pela Fazenda para compensar a perda com desonerações.

Pela manhã, o presidente Lula afirmou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, como argumento que o “aumento da arrecadação e a queda de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público”. Na prática, o presidente descartou a pauta de controle de gastos em momento no qual Haddad promete apresentar medidas para diminuir o ritmo de aumento de despesas com saúde e educação.

O peso das questões internas na formação da taxa de câmbio ficou mais evidente pela manhã, quando o dólar tocou máxima a R$ 5,4299 por aqui enquanto mergulhava no exterior, após leitura benigna de inflação ao consumidor nos EUA. Apesar da ponderação de que pode haver contaminação para o real do desmonte de apostas no peso mexicano, que caiu quase 1% nesta quarta, ficou patente o descolamento da moeda brasileira do ambiente global.

O dólar à vista encerrou em alta de 0,84%, cotado a R$ 5,4062 – novamente no maior valor de fechamento desde 4 de janeiro de 2023 (R$ 5,4524). A moeda passou a apresentar valorização de 1,53% na semana e de 2,96% no mês. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho apresentou giro expressivo, acima de US$ 19 bilhões, o que sugere mudanças relevantes no posicionamento dos investidores.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que um aumento da aversão ao risco motivada por fatores internos impediu o dólar de cair no mercado doméstico, mesmo com a baixa das taxas dos Treasuries na esteira do resultado benigno do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) nos EUA. “Está cada vez mais difícil aumentar a arrecadação. E um corte de gastos é complicado, com o Orçamento engessado e falta de vontade política”, diz Weigt.

No meio da tarde, o dólar até ensaiou zerar as perdas e tocou o nível de R$ 5,35, em meio a ajuste e à divulgação de dados positivos do fluxo cambial no início de junho. Mas o alívio foi pontual. Com a moeda americana reduzindo as perdas no exterior após declarações um pouco mais duras de Powell, a divisa voltou a acentuar os ganhos no mercado local.

Pesou também contra o real a fala da ministra do Planejamento, Simone Tebet, em audiência na Comissão Mista de Orçamento (CMO). Tebet reconheceu que o “desafio das contas públicas não é pequeno” e disse que “sem equilíbrio fiscal” o governo não vai resolver as questões sociais. Mas, em vez em vez de falar em redução de gastos, pregou revisão de despesas. Ela também disse que não “há decisão política sobre desvincular benefícios” e disse que a “revisão de gastos envolve toda a equipe econômica, não só o Planejamento”.

“Tivemos hoje um pico de estresse hoje, com muita busca por hedge, porque a incerteza sobre as contas públicas aumentou muito. Haddad disse que não tem plano B após a devolução da MP do PIS/Confins, enquanto Lula fala em equilibrar as contas com corte de juros”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo.

No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – recuava no fim da tarde, pouco acima dos 104,700 pontos, após ter registrado mínima aos 104,257 pontos pela manhã. As taxas dos Treasuries caíram em bloco, mas também se afastaram das mínimas na segunda etapa de negócios.

Como esperado, o Fed manteve a taxa básica de juros na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, em decisão unânime. No comunicado, o BC americano repetiu que não será apropriado reduzir os juros até que haja maior confiança de que a inflação ruma para a meta de 2%.

As projeções dos dirigentes do Fed, reveladas no chamado “gráfico de pontos”, mostram que já não há mais expectativa de três cortes de 25 pontos-base neste ano. Dos 19 dirigentes do BC norte-americano, 15 esperam taxa básica em taxa básica abaixo do nível atual. Oito autoridades esperam que a taxa básica seja reduzida em 50 pontos-base até o fim do ano, e outras sete projetam redução de 25 pontos-base. Já quatro dirigentes preveem juros no nível atual.