18/04/2024 - 17:38
Após queda de 0,47% ontem, o dólar à vista apresentou leve alta na sessão desta quinta-feira, 18, dia marcado por fortalecimento da moeda americana no exterior. Falas duras de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) empurraram as taxas dos Treasuries ainda mais para cima, o que castigou divisas emergentes. Os ruídos políticos locais e a percepção de desidratação prematura do novo arcabouço fiscal seguem como pano de fundo para a busca de proteção cambial.
Tirando uma queda pontual e limitada nos primeiros negócios, quando registrou mínima a R$ 5,2293, a moeda trabalhou em alta no restante da sessão. Com máxima a R$ 5,2784 no início da tarde, o dólar reduziu bastante os ganhos na última hora de pregão e encerrou cotado a R$ 5,2502, avanço de 0,12%. Já o Ibovespa teve alta de 0,02%, aos 124.196,18 pontos. Veja cotações.
+ Ibovespa vira no fim e sobe 0,02%, aos 124.196 pontos
Com a alta desta quinta, o dólar passa a apresentar avanço de 2,52% nesta semana, o que leva a valorização acumulada em abril para 4,68%.
Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY teve leve alta, voltando a superar os 106,100 pontos. Entre divisas e emergentes, as piores perdas foram dos pesos mexicano e colombiano, dois dos principais pares do real. Na contramão, o peso chileno teve ganhos de mais de 1%, escorado na alta do cobre, que atingiu hoje o maior nível em dois anos.
“Houve uma correção ontem no câmbio até por conta do movimento exacerbado de alta nos dias anteriores. E hoje o dólar já voltou a subir. Ainda não foi encontrado um ponto de equilíbrio”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, ressaltando que o mercado ainda está absorvendo a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos. “As divisas emergentes acabam sofrendo um pouco mais porque tem um nível de risco maior. Com o cenário muito indefinido, é natural que haja busca de hedge”.
Com a ausência de indicadores de peso, as atenções se voltaram para falas de dirigentes do Federal Reserve. Pela manhã, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, afirmou não sentir urgência de cortar os juros. Com direito a voto nas decisões de política monetária do BC americano, Willians disse que a taxas vão cair, mas que o momento exato depende do comportamento da economia, que ainda está aquecida. No início da tarde, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, reforçou a perspectiva de postergação dos cortes de juros mais para o fim do ano.
Em entrevista coletiva ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou é “preciso cautela nos próximos dias e semanas, porque haverá um reposicionamento global” com as mudanças das expectativas para os juros nos EUA. Já Campos Neto disse que o BC decidiu abandonar o “foward guidance” da política monetária, que previa novo corte da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual em maio, porque “a visibilidade é menor”. Ambos participaram de encontro do G20 Brasil, que ocorreu em paralelo às reuniões de Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.
Segundo o presidente do BC, o fortalecimento global do dólar pode impor necessidade de reação de alguns banqueiros centrais. O Brasil estaria em uma situação melhor, em razão dos fundamentos externos positivo, com superávits comerciais robustos. “Não interferimos no mercado de câmbio para combater uma mudança estrutural, que tem fundamento, como o caso da percepção de que os juros dos EUA terão de ficar mais altos por mais tempo”, disse o Campos Neto.
“Não houve novidade no que Haddad e Campos Neto falaram. O mercado continua avesso ao risco. A alta dos juros do Treasuries fortalece o dólar e ainda temos o clima de incerteza com a questão fiscal doméstica”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Ouribank.