O dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira, 23, em leve alta, refletindo, sobretudo, a manutenção na taxa de câmbio de prêmios de risco associados ao quadro fiscal doméstico. Investidores ainda digerem os números do relatório bimestral de receitas e despesas divulgados na última sexta-feira à noite com contenção menor de gastos.

Na abertura dos negócios, a moeda, que havia fechado na sexta-feira em alta de 1,78%, ensaiou uma nova arrancada, aproximando-se do nível de R$ 5,60 na máxima (R$ 5,5979). Logo em seguida, a divisa moderou os ganhos, com ajustes e realização de lucros. Houve também boa receptividade à fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a possibilidade de elevação do rating brasileiro, o que ajudou a diminuir as perdas dos ativos locais.

Outro ponto que pode ter contribuído para amenizar as pressões sobre o real foi a virada para baixo das taxas dos Treasuries de 2 anos, após dirigentes do Federal Reserve enfatizarem que há espaço para um processo mais amplo de redução de juros nos EUA. O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, disse que espera “muito mais” cortes ao longo de 2025.

Com mínima a R$ 5,5279, o dólar terminou o pregão em alta de 0,26%, cotado a R$ 5,5353. Apesar de duas sessões consecutivas de valorização, a moeda americana ainda apresenta queda de 1,77% em setembro. No ano, o dólar acumula ganhos de 14,05% em relação ao real.

O relatório bimestral trouxe redução do congelamento total de gastos, que considera bloqueio e contingenciamento, de R$ 15 bilhões para R$ 13,3 bilhões. Embora parte dos analistas acredite que o governo vá cumprir a meta de resultado primário deste ano utilizando a banda de tolerância (0,25% do PIB), os números foram mal recebidos.

Na visão do economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, as projeções tanto de receitas quanto de despesas trazidas pelo relatório “são questionáveis”. Ele observa que as receitas superaram as previsões em razão do crescimento acima do esperado da economia e questiona a capacidade de o governo cumprir as metas quanto a atividade desacelerar.

“O governo até pode cumprir a meta desde ano (considerando o intervalo de tolerância), mas a desconfiança com relação ao compromisso com a sustentabilidade das contas públicas só aumenta, o que se reflete no prêmio de risco embutido nos preços dos ativos brasileiros”, afirma Olivares.

O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, observa que, apesar de ganhos de credibilidade por parte do Banco Central, com a alta da taxa Selic em 0,25 ponto porcentual na semana passada, em decisão unânime, o real ainda sofre com a questão fiscal.

“Uma parte da credibilidade na política monetária foi adquirida, mas a aversão ao risco continua, como mostra o juro longo brasileiro, que não caiu mesmo com o BC mais hawk (duro)”, afirma Maciel. “O que está pesando no juro longo e no câmbio é o fiscal, com perspectiva de menor contenção de despesas e alguma frustração de receitas”.

Maciel afirma que o prêmio de risco sugerido pelo juro longo é compatível com uma taxa de câmbio no intervalo entre R$ 5,60 e R$ 5,70. Caso o BC tivesse optado por uma alta maior da Selic, de 0,50 ponto porcentual, poderia haver um algum alívio adicional, levando a um câmbio menos desvalorizado. “Apesar de tudo, acho que o juro longo está até um pouco exagerado. Se o governo fizer tudo direitinho, as taxas recuam um pouco e vamos para um câmbio entre R$ 5,40 e R$ 5,50 no fim do ano.”