Após operar com viés de baixa pela manhã, o dólar à vista ganhou certo fôlego ao longo da tarde no mercado doméstico de câmbio e encerrou a sessão desta quarta-feira, 21 em leve alta, na casa de R$ 4,93. A moeda interrompeu, assim, uma sequência de quatro pregões consecutivos de queda, em que havia acumulado desvalorização de 0,81%.

O tropeço do real à tarde veio em meio a máximas dos retornos dos Treasuries, após leilão de T-notes de 20 anos com demanda abaixo da média e taxas acima das vistas no mercado. A operação foi realizada ainda antes da divulgação, às 16h, da ata do Federal Reserve, que não trouxe novidades. A abertura da curva americana respingou na maioria das divisas emergentes. Já o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – operou a maior parte do dia em ligeira queda, no limiar dos 104,000 pontos.

Como nas sessões anteriores, o dólar à vista oscilou hoje entre margens estreitas, com variação de menos de três centavos entre a mínima (R$ 4,9225), pela manhã, e a máxima (R$ 4,9469). No fim do dia, o dólar era negociado a R$ 4,9384, em alta de 0,14%. O contrato de dólar futuro para março apresentou giro moderado, na casa de US$ 10 bilhões, o que sugere pouco apetite para formação de posições mais contundentes.

“O leilão do Tesouro americano de papéis de 20 anos com taxas acima das do mercado provocou alta mais forte dos Treasuries e acabou pesando um pouco sobre o real à tarde”, afirma o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, que vê ausência de catalisador para um movimento mais forte do dólar no mercado local.

Segundo Borsoi, forças opostas têm atuado na formação da taxa de câmbio nas últimas semanas. De um lado, há entrada de fluxo comercial, típica de época de safra, que joga o real para cima. Em contraposição, o fluxo financeiro tem sido levemente negativo, diante de um estreitamento do diferencial de juros interno e externo. As taxas futuras locais sobem junto com os retornos dos Treasuries, mas em menor magnitude, salienta o economista.

“Esse embate de forças faz o mercado andar de lado. O que pode mexer com o dólar daqui para frente são os próximos passos da política monetária americana e a questão do crescimento na China, já que ninguém sabe o tamanho do problema da economia chinesa”, afirma Borsoi, ressaltando que as quedas seguidas das cotações do minério de ferro sugerem preocupações com o gigante asiático.

Em sua ata, o BC americano repetiu que precisa de mais confiança na continuidade do processo de desinflação para iniciar os cortes de juros. A economia americana, afirmaram os dirigentes do Fed, cresce em ritmo sólido e o mercado de trabalho se mantém apertado, apesar de moderação na geração de empregos.

A leitura acima do esperado tanto da inflação ao consumidor quanto ao produtor em janeiro, aliada a declarações mais conservadoras de dirigentes do BC americano, deslocaram a aposta majoritária (mais de 70%) para o primeiro corte de juros nos EUA neste ano de maio para junho – perspectiva que praticamente não se alterou após a divulgação da ata do Fed.