Por Andre Romani

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar à vista teve leve queda ante o real nesta segunda-feira, após três altas seguidas e alinhado com o desempenho frente aos pares emergentes da divisa brasileira, enquanto, no front doméstico, ruídos sobre uma moeda comum envolvendo Brasil e Argentina ficaram no radar.

O dólar à vista fechou em queda de 0,18%, a 5,1993 reais na venda. O movimento acompanhou as perdas do dólar ante divisas emergentes como o peso mexicano, o peso colombiano e o peso chileno.

Já frente a uma cesta de moedas fortes, o dólar exibia avanço de cerca de 0,2%, antes de dados do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano nesta semana, com investidores também na expectativa por decisão de juros do Federal Reserve (Fed) semana que vem. A aposta majoritária no mercado é de alta de 0,25 ponto percentual na taxa, o que representaria nova redução de ritmo no aperto monetário pelo banco central norte-americano.

Declarações de membros do Banco Central Europeu (BCE) advogando por mais duas altas de 0,50 ponto percentual nos juros na zona do euro também foram destaque na sessão.

Localmente, o anúncio do desenvolvimento de uma moeda comum entre Brasil e Argentina no final de semana gerou certo ruído entre agentes financeiros, ainda que não tenha tido influência relevante no fluxo de negócios do pregão.

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“A semana começou ainda fraca de notícias”, disse à Reuters o gestor de portfólio da Portofino Multi Family Office, Thomas Gibertoni.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua contraparte argentina, Alberto Fernández, publicaram artigo conjunto no final de semana em que defenderam o desenvolvimento de uma moeda comum regional para uso comercial.

O texto causou turbulência pelo entendimento de que os dois países estariam planejando adotar uma moeda comum em todos os sentidos, o que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou. Lula e Haddad estão na Argentina para a primeira viagem internacional do presidente desde que tomou posse.

O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira que a proposta nada tem a ver com uma substituição das moedas nacionais, argumentando que a ideia é facilitar as trocas comerciais entre os dois países.

Gibertoni não viu as informações fazendo preço no câmbio na sessão. “Acho que foi muito mais uma extensão das incertezas da semana passada”, disse ele. “Um plano de moeda única demoraria muito tempo para ser implementado, são estudos bem preliminares, algo difícil de ir para frente no curto prazo”, afirmou.

O dólar vinha de três avanços seguidos ante o real, uma vez que declarações de Lula sobre possível alterações no salário mínimo e no Imposto de Renda, assim como críticas suas à independência do Banco Central (BC) e a atual meta de inflação, pressionaram a moeda local na última semana.

O BTG Pactual manteve nesta segunda-feira projeção de dólar a 5,30 reais no final do ano, mas afirmou que “os riscos de depreciação mais forte persistem”, segundo relatório assinado por Mansueto Almeida e equipe.

“Embora o ambiente externo tenha sido favorável aos ganhos do real, a incerteza fiscal o manteve em um nível depreciado”, escreveram eles, que projetam, no cenário-base, a implementação de um novo arcabouço fiscal que garanta a sustentabilidade da trajetória da dívida pública. Caso isso não ocorra, escreveram, o real passaria de 6 reais.

Ainda na cena local, a pesquisa Focus do BC desta segunda-feira mostrou nova piora nas expectativas dos economistas do mercado para inflação neste ano e em 2024, bem como uma Selic mais alta no final do ano que vem em comparação ao estimado semana passada.

O dólar acumula queda de 1,49% ante o real no ano, em especial diante da perspectiva de redução de ritmo de aperto monetário nos EUA, o que enfraqueceu a moeda norte-americana globalmente.

(Por André Romani; edição de Isabel Versiani)

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