23/09/2022 - 17:27
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar disparou no ritmo mais acentuado em cinco meses frente ao real nesta sexta-feira, impulsionado por movimento global de aversão a risco à medida que os principais bancos centrais aumentam os juros de maneira agressiva, tornando uma recessão cada vez mais provável.
A moeda norte-americana à vista ganhou 2,59%, a 5,2483 reais na venda, maior valorização diária desde 22 de abril (+4,07%) e maior patamar para encerramento desde o último dia 16 (5,2609 reais).
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Apesar desse salto, o dólar ainda registrou queda de 0,24% frente ao fechamento de sexta-feira passada, depois de sofrer perdas expressivas na segunda (-1,79%) e na quinta-feira (-1,12%).
Na B3, às 17:14 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 2,64%, a 5,2630 reais.
O humor internacional –que já se mostrava pessimista há dias– piorou nesta sexta após dados de Índices de Gerentes de Compras (PMI) da Europa fornecerem novas evidências de que os países da região podem estar entrando em recessão.
“É um cenário tão incerto, tão ruim, e a aversão a risco é tão grande que faz com que o capital fuja rapidamente de lá (Europa), fator que apoiou o dólar hoje”, disse à Reuters Matheus Pizzani, economista da CM Capital.
E a determinação dos principais bancos centrais de continuar apertando a política monetária de forma a conter a inflação tem agravado os temores econômicos, acrescentou o especialista, já que juros mais altos tendem a restringir o consumo.
Nos EUA, a economia tem se mostrado mais resiliente do que na Europa, o que pode fornecer ainda mais argumentos para que o Federal Reserve siga firme na condução de seu ciclo de aperto –os juros já subiram 3 pontos percentuais desde março deste ano, ante patamar próximo de zero. A alta mais recente do Fed, de 0,75 ponto, foi anunciada na quarta-feira.
O dólar é considerado uma aposta segura em momentos de turbulência econômica ou geopolítica. Nesta tarde, um índice da moeda contra uma cesta de pares fortes disparava 1,6%, em alta contra todas as divisas relevantes do mundo.
O real ficou boa parte das negociações desta sexta-feira entre as divisas de pior desempenho no mundo, em posição melhor apenas que o peso chileno e a libra. A moeda britânica despencou para os menores patamares em 37 anos, depois que o Reino Unido anunciou cortes de impostos que devem inflar a dívida do país.
Mesmo assim, investidores têm chamado atenção para alguns pontos de suporte para o real que colaboraram para a queda do dólar no acumulado desta semana.
Entre eles, o apoio do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto, anunciada no início da semana, que reforçou esperanças de uma política fiscal austera em eventual governo do petista.
Além disso, Pizzani, da CM, avaliou que a corrida eleitoral brasileira não está tendo os impactos negativos no mercado de câmbio que muitos especialistas esperavam no início do ano. E ele espera que, caso as eleições transcorram “pacificamente”, continuem não gerando tanta volatilidade.
Também joga a favor do real o nível alto da taxa Selic, mantida em 13,75% pelo Banco Central em sua última reunião de política monetária, encerrada na quarta-feira, com sinalização de que o elevado patamar persistirá por mais tempo que o cogitado pelo mercado.
Custos de empréstimo mais altos tornam o carrego (retorno de taxa de juros) do real mais atraente para investidores estrangeiros.
A CM Capital espera que o dólar encerre este ano em 5,42 reais, o que exigiria valorização de 3,27% em relação ao preço atual.
O Banco Central vendeu nesta sexta-feira 2 bilhões de dólares em leilões de venda de moeda conjugados com leilões de compra no mercado interbancário, ferramenta que geralmente utiliza em momentos de falta de liquidez no mercado de câmbio à vista.
(Edição de José de Castro)