SÃO PAULO (Reuters) – O dólar caiu frente ao real nesta sexta-feira, na contramão do exterior, em movimento que alguns investidores atribuíram a entraves na tramitação da PEC da Transição e da Lei das Estatais no Congresso.

A moeda norte-americana à vista caiu 0,42%, a 5,2925 reais na venda. Na semana, marcada por volatilidade, o dólar subiu 0,89%.

+ Ibovespa recua com NY e queda de varejistas

A previsão era que a PEC da Transição pudesse ter sua análise iniciada no plenário da Câmara na quinta-feira, mas a votação foi adiada para a próxima terça-feira em meio a clima de apreensão influenciado pelo julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) da validade das emendas de relator –que só deve ser retomado na próxima semana– e também pelas discussões sobre as nomeações do próximo governo.

“A resistência que a pauta enfrenta na Câmara aumenta as chances de desidratação do projeto, já que o futuro governo pretende aprová-la ainda este ano e o Congresso entra em recesso na semana que vem”, avaliou a Levante Investimentos em nota.

A PEC da Transição, da forma como saiu do Senado, permite a expansão do teto de gastos em 145 bilhões de reais para pagamento do Bolsa Família e o desbloqueio de dotações provisionadas que seriam canceladas até o fim de 2022.

A possibilidade de as alterações na Lei das Estatais que viabilizariam a indicação do petista Aloizio Mercadante à presidência do BNDES serem votadas apenas no ano que vem também oferecia algum alívio aos investidores, disseram participantes do mercado.

Analistas também disseram que falas recentes do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o Brasil não está em um momento em que uma expansão fiscal ajudaria a economia, colaboraram para a descompressão de riscos fiscais nos últimos dias.

Ainda assim, Celso Pereira, diretor de Investimentos da Nomad, disse que as discussões sobre as contas públicas terão preponderância na trajetória do câmbio ao longo do ano que vem.

“Quando você tem um cenário para o ano que vem de possível insustentabilidade das contas públicas, o Banco Central não vai ter condição de levar a Selic muito abaixo dos 13,75%, e você vai reduzir o crescimento econômico potencial do Brasil”, argumentou Pereira.

O ritmo de expansão da atividade de um país é levado em consideração nas tomadas de decisão de investimento por parte de agentes estrangeiros.

Já no exterior, o dólar tinha pouca alteração contra uma cesta de pares fortes, conforme investidores tentavam avaliar os efeitos dos ciclos de aperto monetário dos principais bancos centrais do mundo.

O Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, elevou sua taxa de juros nesta semana em 0,50 ponto percentual, desacelerando o ritmo de aperto após subir os custos dos empréstimos em 0,75 ponto em cada uma de suas três reuniões anteriores.

No entanto, as mais recentes projeções econômicas trimestrais do Fed mostram que as autoridades veem os juros em 5,1% no final do próximo ano, nível elevado que reforçou temores de uma recessão na maior economia do mundo. Em setembro, eles projetavam que 2023 terminaria com a taxa básica em 4,6%.

“Os EUA são uma das locomotivas do mundo, parceiro comercial relevante para o Brasil; uma recessão nos EUA tende a jogar contra o real”, alertou Pereira.

De acordo com ele, como as próximas duas semanas podem trazer os anúncios de mais integrantes da equipe ministerial do governo eleito do Brasil e o mercado precisa precificar essa informação, “até o final do ano vai ter uma volatilidade atípica no câmbio”.

Além disso, em meio às festas de fim de ano, tratam-se tipicamente de semanas de volumes reduzidos, afirmou Pereira.