O dólar fechou em baixa ante o real pela 11ª sessão consecutiva nesta segunda-feira, na maior sequência de quedas em 20 anos, após os Estados Unidos anunciarem um adiamento de 30 dias na aplicação de tarifas comerciais contra o México, o que pesou sobre as cotações da moeda norte-americana ante outras divisas de emergentes.

O dólar à vista fechou em baixa de 0,34%, aos 5,8159 reais, a menor cotação desde 26 de novembro do ano passado, quando encerrou em 5,8096 reais. Veja cotações.

Apesar da variação contida em algumas sessões, desde 17 de janeiro o dólar não fecha um dia em alta. No período, o dólar acumulou uma queda de 4,11% frente ao real.

Esta é a maior sequência negativa desde o período entre 24 de março e 13 de abril de 2005, quando o dólar fechou em baixa por 14 sessões consecutivas, chegando ao valor de 2,563 reais.

Em 2025 a moeda norte-americana acumula baixa de 5,88%.

Às 17h28 na B3 o dólar para março — atualmente o mais líquido no mercado brasileiro — cedia 0,67%, aos 5,8365 reais.

O Ibovespa fechou com queda modesta nesta segunda-feira, com as ações da WEG entre as maiores pressões de baixa, em sessão marcada pela repercussão do anúncio de tarifas comerciais pelos Estados Unidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa recuou 0,13%, a 125.970,46 pontos, tendo alcançado 125.566,4 pontos na mínima e 126.473,23 pontos na máxima do dia. O volume financeiro somou 19,5 bilhões de reais.

O dólar no dia

O dólar iniciou o dia em alta ante o real com investidores reagindo à perspectiva de uma guerra comercial entre países. No sábado, os EUA haviam anunciado tarifas de 25% sobre as importações canadenses e mexicanas e de 10% sobre os produtos da China a partir de terça-feira, para atender a uma emergência nacional sobre o opioide fentanil e a entrada de estrangeiros ilegais no território norte-americano.

O impulso vindo do exterior, somado ao fato de que o dólar havia recuado 3,78% nas dez sessões anteriores, fez a cotação da moeda norte-americana à vista atingir o pico de 5,9058 reais (+1,20%) às 11h54 desta segunda-feira.

A mudança de trajetória da moeda norte-americana ocorreu após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que vai suspender as tarifas planejadas contra o México por 30 dias e que as negociações continuarão para se chegar a um “acordo” entre os dois países.

Em uma publicação nas redes sociais após telefonema com a presidente do México, Claudia Sheinbaum, Trump disse ainda que participaria das negociações.

A suspensão das tarifas foi bem recebida pelo mercado e fez o dólar despencar ante o real e ante outras moedas de emergentes, como o próprio peso mexicano.

“Com o Trump é só emoção no mercado, tanto para cima quanto para baixo”, comentou à tarde o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “E o dólar a 6,00 reais ou próximo disso estava também muito inflado. Então é normal buscar uma taxa de equilíbrio”, acrescentou, em referência ao fato de a moeda norte-americana ter cedido nas últimas sessões ante o real.

Às 16h31, na esteira do acordo entre EUA e México, o dólar à vista marcou a cotação mínima de 5,8124 reais (-0,40%), em movimento que também favorecia o recuo das taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros).

Profissionais ouvidos pela Reuters nas últimas semanas têm pontuado que a sequência de quedas do dólar faz parte de um movimento de ajuste de posições ante o “exagero” das cotações visto no fim de 2025, em meio às preocupações com a política fiscal do governo Lula. A avaliação de que a política tarifária de Trump pode não ser tão agressiva quanto o esperado durante a campanha é outro fator de alívio para as cotações — no exterior e no Brasil.

Às 17h22, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,59%, a 108,860.

Pela manhã, o Banco Central vendeu, em sua operação diária, 15.000 contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 5 de março de 2025.

O dia do Ibovespa

No sábado, o presidente norte-americano, Donald Trump, cumpriu suas ameaças e assinou decretos determinando a aplicação de tarifas de 25% sobre importações canadenses e mexicanas e de 10% sobre produtos chineses a partir de terça-feira, com algumas exceções.

O movimento, que muito analistas avaliaram como uma escalada relevante no protecionismo comercial, afetou mercados financeiros mundo afora, reverberando também nos ativos brasileiros. O dólar chegou a avançar 1,20%, a 5,9058 reais.

Entre as preocupações com as medidas tarifárias, está o efeito nocivo no crescimento dos países envolvidos e seu reflexo na economia global, bem como no comportamento da inflação.

As ações “demonstram uma possível mudança de paradigma na política comercial, com o governo buscando, através de medidas disruptivas, reposicionar o país como polo manufatureiro e de segurança nacional”, afirmaram economistas do Bradesco.

“Essa estratégia, que envolve retaliações imediatas e um reposicionamento gradual dos fluxos comerciais globais, pode desencadear um ambiente estagflacionário e transformar o cenário econômico internacional”, acrescentaram em relatório a clientes.

No começo da tarde, a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, disse que os EUA aceitaram suspender por um mês as tarifas contra o México, enquanto Trump acrescentou que as negociações continuarão visando um acordo entre os dois países.

O Ibovespa mudou de sinal e renovou máxima após a notícia, mas voltou a perder o fôlego, enquanto o dólar passou a cair ante o real, fechando o dia com declínio de 0,34%.

O primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, também informou mais tarde que Trump suspenderá as tarifas sobre o Canadá por pelo menos 30 dias.

Na visão do estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, dado o elevado componente de incertezas acerca das derivadas de tais medidas, bem como das respostas dos países envolvidos, a volatilidade tende a continuar alta.

Estrategistas também começaram fevereiro adotando cautela nas recomendações de ações brasileiras, mesmo com a alta de 4,9% do Ibovespa em janeiro, citando falta de catalisadores e um quadro macro ainda difícil no país, além de incertezas externas.

Para Victor Natal e Mathias Dabdab Venosa, do Itaú BBA, a performance do mês passado foi uma correção, não uma primeira pernada de um movimento de recuperação.

“Apesar dos valuations extremamente comprimidos ao fim de 2024 parecerem merecer alguma correção, não houve qualquer mudança relevante nas principais variáveis macroeconômicas que seja capaz de justificar uma percepção de cenário mais benigno.”

Em relação ao cenário brasileiro, eles apontaram continuidade da deterioração das expectativas, observadas pelas revisões altistas do consenso de mercado para juros, inflação e câmbio, e revisões baixistas para o Produto Interno Bruto (PIB).

“Acreditamos que o cenário fiscal deve continuar sendo o grande foco dos investidores de renda variável por aqui, ofuscando praticamente todo o debate a respeito da dinâmica das empresas”, afirmaram em relatório a clientes.

Os estrategistas do Itaú BBA ponderaram, contudo, que movimentos pontuais de alta das ações em espaços curtos de tempo, assim como verificado em janeiro, podem ocorrer outras vezes ao longo do ano.

DESTAQUES

– WEG ON recuou 2,07%, com dúvidas envolvendo mudanças na política comercial dos EUA abrindo espaço para movimentos de realização de lucros nos papéis, após um salto de 45,5% em 2024 e ganho de 4,3% em janeiro de 2025. Analistas do Itaú BBA reforçaram que a companhia está estrategicamente posicionada para mitigar o impacto de tarifas mais altas, com implicações limitadas para receita e lucratividade.

– ITAÚ UNIBANCO PN perdeu 0,93% e BRADESCO PN cedeu 0,17%, tendo no radar os resultados do quarto trimestre nesta semana – quarta e sexta-feira, respectivamente. SANTANDER BRASIL UNIT, que reporta balanço na quarta, caiu 0,5% e BANCO DO BRASIL ON, que divulga no dia 19, recuou 0,25%. Estrategistas do BTG Pactual também excluíram Itaú de sua carteira 10SIM para fevereiro.

– PETROBRAS PN caiu 0,5%, após renovar máximas históricas na última sexta-feira, tendo no radar dados de produção e vendas do último trimestre de 2024 da estatal após o fechamento do pregão. PETROBRAS ON recuou 1,22%. No exterior, o barril de petróleo Brent subiu 0,38%.

– VALE ON terminou com variação positiva de 0,07%, ainda sem a referência dos futuros do minério de ferro na China por feriado naquele país. No setor de mineração e siderurgia, GERDAU PN avançou 1,51%, uma vez que pode se beneficiar das ações tarifárias de Trump em razão de suas operações nos EUA. CSN ON e USIMINAS PNA fecharam com declínio de 0,66% e alta de 0,36%, respectivamente.

– ENEVA ON subiu 1,27%, após divulgar que assinou um aditivo do contrato de fornecimento de gás natural liquefeito para a Virtu GNL, em medida que monetiza toda a capacidade das plantas de liquefação de gás natural do complexo Parnaíba, no Maranhão. O Itaú BBA também reiterou “outperform” para as ações, argumentando que o atual nível de preço das ações representa uma “oportunidade única”.

– ELETROBRAS ON avançou 1,27%, em dia positivo para o setor elétrico. O BTG Pactual manteve as ações em sua carteira de recomendações 10SIM para fevereiro, citando que uma política de dividendos trimestrais está sendo considerada, bem como a empresa pode estar a algumas semanas de um acordo com o governo federal. Também destacaram que a complexidade tem sido gradualmente reduzida pela administração da empresa.

– AZUL PN recuou 5,65%, em sessão de ajustes, após forte valorização no mês passado, de quase 30%, em período marcado pela conclusão da reestruturação da dívida da companhia aérea e avanço nas tratativas para uma potencial união dos negócios no Brasil com a rival Gol. Fora do Ibovespa, GOL PN fechou em queda de 3,53%.