Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) -O dólar caía acentuadamente na abertura desta quinta-feira e era negociado abaixo do nível de 5,00 pela primeira vez em quase oito meses, depois que uma nova desaceleração no ritmo de aperto monetário do Federal Reserve e a manutenção da Selic em patamar elevado pelo Banco Central pintaram um quadro de diferencial de juros favorável à divisa doméstica.

Às 10:34 (horário de Brasília), o dólar à vista recuava 2,25%, a 4,9493 reais na venda, operando abaixo dos 5,00 reais pela primeira vez desde meados de junho passado.

Na B3, às 10:34 (horário de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 2,16%, a 4,9715 reais.

O tombo do dólar foi desencadeado em parte pela decisão da véspera do Federal Reserve de elevar sua meta de taxa de juros em 0,25 ponto percentual, uma desaceleração em relação a aumentos anteriores de 0,50 e até 0,75 ponto.

“Ganhou força desde o final do ano passado a ideia de que o Fed ia desacelerar a alta de juros, e isso se concretizou ontem e enfraquece o dólar em relação às moedas todas, é um movimento global”, disse à Reuters Bruno Mori, planejador financeiro pela Planejar.

Ainda na quarta-feira, o Banco Central do Brasil decidiu manter a Selic em 13,75% ao ano e ressaltou que a incerteza fiscal e a deterioração nas expectativas de inflação do mercado elevam o custo para que a autoridade monetária atinja suas metas, sugerindo taxas altas por mais tempo.

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“A ideia de que os juros não vão cair tão cedo ganham cada vez mais força e evidência prática, e o fluxo para o mercado local tende cada vez mais a aumentar”, explicou Mori, destacando o amplo espaço entre os patamares de juros no Brasil e nos Estados Unidos.

Quanto maior o diferencial entre os custos dos empréstimos domésticos e internacionais, mais atraente fica o real para uso em estratégias de “carry trade”, que consistem na contratação de empréstimo em país de juro baixo e aplicação desses recursos em praça mais rentável. Desta forma, a manutenção da Selic no nível elevado atual e um arrefecimento do aperto monetário do Fed jogam a favor da divisa brasileira.

Para além do fator juro, alguns investidores apontaram o resultado das eleições para as lideranças do Congresso como um suporte adicional para o real, depois que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu o que queria ao ver reeleitos Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como presidente do Senado.

“Câmara e Senado consolidaram condições de governabilidade melhores, isso é super positivo para a questão da atividade (econômica)”, disse Mori, que também citou uma reabertura econômica na China como outro impulso para a divisa doméstica e outras moedas de países emergentes.

Com o real nadando a favor da correnteza, a tendência para o mês de fevereiro é de que o dólar rompa definitivamente a barreira dos 5,00 reais para baixo, acrescentou o especialista.

Na véspera, a moeda norte-americana à vista já havia fechado em queda de 0,25%, a 5,0633 reais na venda, patamar de encerramento mais baixo desde 4 de novembro passado (5,0524).

(Edição de Camila Moreira)

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