17/03/2022 - 17:36
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar terminou o pregão em firme queda de mais de 1%, em torno de 5,03 reais, numa quinta-feira de forte demanda por risco nos mercados internacionais, à medida que investidores digeriram sinalizações de política monetária lá fora e aqui.
O dólar à vista caiu 1,07%, a 5,0373 reais, próximo à mínima do dia, de 5,0305 reais (-1,20%). Na máxima, foi a 5,109 reais (+0,34%).
No exterior, o índice do dólar frente a uma cesta de divisas tinha queda de quase 0,5%, bastante expressiva para o padrão do indicador. O dólar australiano, que costuma ser visto como uma “proxy” de demanda por risco, saltava 1,2%.
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Os mercados ainda pareceram olhar para pontos diferentes em relação às sinalizações emitidas pelo banco central dos Estados Unidos, mas a percepção de que o Fed pode não conseguir entregar todas as altas de juros prometidas pode estar afetando o dólar para baixo e elevando as ações, contribuindo para a demanda por ativos de risco –como moedas emergentes e/ou correlacionadas às commodities.
E nesse contexto o alto juro brasileiro joga a favor do câmbio. O Bacen indicou na véspera que poderia parar de subir a Selic depois de maio, mas, além de o patamar da taxa já estar bastante elevado em comparação aos pares, o risco é de o BC precisar esticar o ciclo de aperto monetário, dada a pressão implacável da inflação.
“A continuação do ciclo de alta sinalizado para maio deve trazer algum suporte para o real”, disse o Barclays em nota. “Estamos taticamente vendidos em real contra peso mexicano, mas mantemos uma visão construtiva de médio prazo para o real, dado o alto ‘carry’ e riscos políticos relativamente contidos por enquanto”, afirmou o banco.
Thiago Melzer, sócio da Upon Global Capital, disse que o Brasil deverá continuar a ter desempenho melhor que pares emergentes no curto e médio prazo, mas o surpreendente fluxo estrangeiro ao país visto no começo do ano deve diminuir, na esteira de fatores locais e de uma percepção de maior risco em relação ao bloco emergente.
O país, segundo ele, recebeu impulso da melhora dos termos de troca; de um cenário eleitoral, aos olhos dos estrangeiros, mais “amigável ao mercado”, conforme o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém a liderança nas pesquisas de intenção de voto; e da percepção de que o Banco Central do país começou a agir antes que outros para combater a inflação.
“Mas a claridade sobre Lula está ficando, digamos assim, mais cinza. Houve melhora de (Jair) Bolsonaro nas pesquisas. Esse cenário (eleitoral) já não está tão claro.”