16/04/2025 - 17:44
O acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China voltou a afastar investidores de ativos norte-americanos, levando a uma nova rodada de queda global do dólar. O real apresentou desempenho inferior a de seus principais pares, à exceção do peso chileno, o que pode refletir tanto questões técnicas quanto ruídos fiscais com divulgação na terça-feira do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO).
Com máxima a R$ 5,9158 e mínima a R$ 5,8525, o dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 16, em baixa de 0,42%, cotado a R$ 5,8650. Em abril, a moeda apresenta valorização de 2,80% em relação ao real. No ano, as perdas, que já chegaram a superar 8%, são agora de 5,10%.
Na queda de braço entre Estados Unidos e China, o governo americano impôs nesta terça à noite restrições para vendas de chips da empresas de tecnologia Nvidia e da AMD para os chineses, derrubando as bolsas em Nova York. A medida vem depois de a China proibir a entrega de jatos da Boeing a companhias áreas do país.
No meio da escalada das tensões comerciais, veio uma nota positiva para a economia global. O PIB da China surpreendeu no primeiro trimestre, ao crescer 5,4% na comparação anual, acima das expectativas de economistas (5,1%).
A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, vê o movimento da taxa de câmbio nesta quarta muito ligado ao ambiente externo, uma vez que outras divisas emergentes, inclusive as latino-americanas, também estão se apreciaram em relação ao dólar.
“O crescimento da China favoreceu essa melhora do apetite por essas divisas. A fraqueza do dólar lá fora também está ligada a esse modelo mais agressivo de negociação do presidente dos EUA com a China”, afirma Quartaroli, para quem a questão fiscal, com “desconforto” em relação aos números do PLDO “teve menos impacto” que a questão externa no câmbio.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY voltou a furar o piso dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,174 pontos à tarde, em linha com as mínimas das taxas dos Treasuries, após fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Franco suíço, visto como porto seguro, subiu mais de 1%.
Indicadores econômicos dos EUA divulgados nesta quarta – como o crescimento além do esperado das vendas do varejo em março – mostram que a economia americana segue saudável, mas as expectativas de crescimento e inflação pioram em razão do tarifaço.
Em discurso à tarde, Powell observou que o nível das tarifas já anunciadas é “significativamente maior do que o previsto”, o que deve se traduzir em inflação mais alta e crescimento mais lento. Powell acredita que haverá um repique transitório da inflação, mas ressaltou que os efeitos do choque tarifário nos preços podem ser mais persistentes.
O time de economistas do Itaú, comandado pelo ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, observa que o comportamento do real tem sido ditado “majoritariamente” pelos movimentos de aumento ou diminuição da aversão ao risco no exterior em meio ao desenrolar da guerra comercial.
Para o banco, em caso de uma desaceleração da economia americana que não resulte em recessão global, é “razoável” esperar enfraquecimento global do dólar e, por tabela, apreciação do real, “especialmente considerando o diferencial de juros elevado”. Já uma escalada da guerra comercial que provoque uma retração da atividade mundial aumentaria a aversão ao risco, resultando em uma taxa de câmbio mais depreciada.
“Diante da incerteza elevada, mantivemos a nossa projeção de taxa de câmbio em R$ 5,75 para 2025 e 2026”, afirmam os economistas do Itaú.
O BC informou nesta quarta que o fluxo cambial na semana passada (de 7 a 11 de abril) foi negativo em US$ 235 milhões, em razão da saída líquida de US$ 3,152 bilhões pelo canal financeiro. Em abril, até dia 11, o fluxo total ainda é positivo em US$ 2,669 bilhões, graças ao saldo positivo de US$ 4,705 bilhões no comércio exterior.
“O câmbio doméstico voltou a colar na dinâmica do dólar no exterior. Vejo um piso de R$ 5,82 no curtíssimo prazo”, afirma o economista-chefe da Equador Investimentos, Eduardo Velho, acrescentando que houve melhora do superávit comercial. “Mercado já precifica na curva de juros Selic em 15%. Nesse nível, o impacto predominante sobre o dólar depende mais do cenário externo e do fluxo cambial.”