15/03/2022 - 17:53
Por José de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar registrou nesta terça-feira o quarto pregão consecutivo de alta, mais longa série do tipo em três meses, que levou a cotação ao maior patamar desde meados de fevereiro e acima de 5,15 reais.
A alta do dólar –em outras palavras, a depreciação da taxa de câmbio– ocorreu em sintonia com novo dia de perdas na bolsa de valores brasileira, mais uma vez pela queda dos preços das commodities. O rali das matérias-primas nas últimas semanas havia oferecido um escudo aos ativos domésticos, em meio ao chacoalhão global decorrente da guerra da Ucrânia e de suas consequências econômicas.
Preocupações com desdobramentos de novos lockdowns na China por causa de um forte aumento de casos de Covid-19 no país e certo nervosismo antes das decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos contribuíram para a realização de lucros na taxa de câmbio nesta terça.
Tanto que o real, que registrou o melhor desempenho global nas semanas seguintes ao início da guerra na Ucrânia, desde a véspera figura entre as moedas de pior desempenho global. Nesta terça, revezou com o peso colombiano (outra divisa “vencedora” durante o conflito no leste da Europa) o posto de maior queda diária entre os principais pares do dólar.
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Veja gráficos do comportamento de algumas moedas emergentes logo depois da eclosão da guerra, no fim de fevereiro, e desde a semana passada, quando as commodities começaram a cair. O real e o peso colombiano se destacaram positivamente no início, mas lideraram as perdas nos últimos dias.
Desde 25 de fevereiro:
Desde 9 de março:
O dólar à vista fechou esta terça-feira em alta de 0,75%, a 5,1584 reais –valor mais alto desde 17 de fevereiro (5,1668 reais), bem antes de a Rússia invadir território ucraniano.
Em quatro pregões consecutivos de ganhos, a cotação saltou 2,91%. A série é a mais longa desde os cinco dias de valorização registrados entre 9 e 15 de dezembro do ano passado.
Ao longo da sessão, o dólar oscilou entre 5,0926 reais (-0,54%) e 5,1707 reais (+0,99%).
“O fundamento do Brasil por ora não mudou muita coisa, o que poderia manter o dólar em baixa”, disse Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, baseado no Estado da Flórida, EUA.
“O que poderia mudar um pouco isso seriam novas isenções fiscais, o que para os investidores poderia soar como certo relaxamento sobre os gastos”, completou, referindo-se a discussões no governo sobre subsidiar os preços dos combustíveis, enquanto se cogitou ainda aumentar gastos no Auxílio Brasil.
“Mas o real ainda pode ter espaço para valorizar, até porque acho que o Fed está blefando. Ele deve amanhã aumentar os juros, mas não acredito que vá sinalizar muitas altas à frente”, disse o economista, pontuando que, nesse cenário, o dólar perderia força no mundo, o que se estenderia ao Brasil.
O banco central dos Estados Unidos deve elevar na quarta-feira a taxa de juros pela primeira vez em mais de três anos. Poucas horas depois, será a vez de o BC brasileiro informar sua decisão de política monetária, com ampla expectativa de elevação de pelo menos 1 ponto percentual da Selic.