O pedido de busca e apreensão contra o ex-governador de Goiás Marconi Perillo e a prisão do ex-tesoureiro de suas campanhas, Jayme Rincón, têm como base as informações prestadas aos investigadores pelo doleiro Álvaro Novis. Os dois são alvo na Operação Cash Delivery, deflagrada na manhã desta sexta-feira, 28, pela Polícia Federal e Ministério Público federal (MPF).

O MPF afirma que o cruzamento das informações fornecidas por Novis com a quebra de sigilos telefônicos, datas das entregas da propina e respectivas localizações à época indicadas pelas antenas de celular dos investigados permitiu identificar “21 eventos de entregas de valores em espécie, no ano de 2014, que totalizam R$ 10,4 milhões, feitas a mando e por coordenação da Odebrecht em favor de Marconi Perillo.”

De acordo com o MPF, após ouvir delatores da Odebrecht, os investigadores descobriram que os repasses de cerca de R$ 10 milhões destinados ao tucano foram realizados por Novis, identificado nas planilhas do departamento de propina da empreiteira como “Paulistinha” ou “Carioquinha”.

Dono da Hoya Corretora, Novis assinou um acordo de colaboração com a Justiça e tem colaborado nos inquéritos abertos com base nas colaborações de executivos da Odebrecht. No caso de Perillo, ele aparece como responsável por operacionalizar todas as entregas para os codinomes “Master”, “Padeiro”, “Calado” ou “Patati”, usados para se referir ao tucano.

“Ouvido pela Polícia Federal, Álvaro Novis admitiu que era encarregado de providenciar a entrega do dinheiro e que, para isso, utilizava as transportadoras Transnacional, em São Paulo, e Trans Expert, no Rio de Janeiro”, diz o MPF.

Além do depoimento e assim como ocorreu no inquérito que investiga o presidente Michel Temer, Novis forneceu planilhas de controle, extratos dos pagamentos e gravações das conversas telefônicas entre os funcionários da Hoya e os destinatários dos repasses.

Segundo o MPF, em algumas das conversas telefônicas entregues pelo doleiro são citadas entregas em um endereço de Rodrigo Rincón, filho de Jayme Rincón, na Rua Haddock Lobo, Jardim Paulista, região nobre de São Paulo.

“As provas de corroboração obtidas pela Polícia Federal foram submetidas à perícia, as gravações foram transcritas e o computador contendo os diálogos de skype foi apreendido. Esse material foi analisado e cruzado com os extratos das ligações telefônicas dos investigados nas datas das entregas da propina, com suas respectivas localizações à época indicadas pelas antenas de celular e com passagens aéreas usadas por eles”, disse o MPF.

Defesa

O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, que defende o ex-governador, divulgou nota sobre o tema. “A Defesa do Marconi Perillo vem a público explicitar o mais veemente repúdio à ação deflagrada hoje em Goiás. O ex-governador foi citado na delação da Odebrecht por fatos ocorridos em 2010 e 2014. É evidente que os fatos devem ser apurados e a Defesa não tem nenhuma preocupação com a investigação. A palavra do delator é isolada e não há, sequer en passant, qualquer fiapo de indício contra o Marconi Perillo. A busca e apreensão na residência do ex-governador há 9 dias da eleição assume um caráter claramente eleitoreiro e demonstra um abuso por parte do Ministério Publico e do Poder Judiciário”, escreveu.

“É, sem dúvida, uma clara interferência, indevida e perigosa, contra a estabilidade democrática. Os fatos citados pelo delator, sem provas, se referem a questões antigas. A falta de contemporaneidade, já decidiu varias vezes o Supremo Tribunal,é impeditivo de prisões e qualquer outra medida constritiva contra qualquer cidadão. Importante esclarecer que não é verdade que o ex-governador teve mandado de prisão decretado, mas teve busca e apreensão e esta medida, neste momento ,já é uma grave agressão. Uma violência inexplicável ao estado democrático de direito”.

A reportagem está tentando entrar em contato com outros citados. O espaço está aberto para manifestações.