13/01/2022 - 16:43
O ex-presidente Donald Trump tem contrariado suas próprias posturas e passou a defender a vacinação contra a Covid-19. O novo discurso desagrada boa parte de sua base eleitoral, fiel ao Partido Republicano e, em grande parte, negacionista e crítica à segurança dos imunizantes (sem qualquer base científica, vale ressaltar).
Pesquisa feita pela Fundação Kaiser Family mostra que, entre os eleitores de Trump, apenas 39,9% foram vacinados. Já quem votou no atual presidente Joe Biden tem taxa média de vacinação em 52,8%.
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Analistas políticos ouvidos pela BBC News apontam motivos eleitorais à mudança discursiva de Trump. À medida que a vacina mostra sua eficácia e segurança, parte não radical dos republicanos começa a rever a opinião sobre as vacinas. Outra especulação gira em torno da tentativa de recuperação do eleitorado perdido nas eleições de 2020 para Biden.
Trump criou a Operação Warp Speed ao injetar mais de U$ 10 bilhões em pesquisas à criação de vacinas contra o coronavírus logo no início da pandemia. Os imunizantes da Johnson e da Moderna foram impulsionados pela iniciativa.
No entanto, para manter sua base eleitoral agitada, Trump foi publicamente contrário à vacinação quando ainda estava no cargo e foi forte disseminador de notícias falsas sobre o tema.
Um consultor político do Partido Republicano ouvido pela BBC News sob sigilo diz que “Trump jamais foi antivacina pessoalmente”, mas, como sua base eleitoral era muito engajada e torno da questão, optou por não se engajar publicamente pela vacinação.
Trump trabalha para os republicanos retomarem maioria no Congresso e também cogita disputar uma nova eleição presidencial em 2024. Para isso, tenta resgatar os feitos pró-vacina, o que já foi elogiado publicamente até por Biden. Além disso, Trump estaria aprendendo a ouvir as urnas, que, em 2020, o rejeitaram em detrimento de um discurso de segurança da saúde pública.
Pesquisa do Instituto YouGov de outubro de 2021 aponta que 70% dos republicanos são contra a obrigatoriedade da vacina, o que é discutido pela Suprema Corte.
“Embora a obrigatoriedade das vacinas permaneça extremamente impopular à direita, o tamanho do grupo antivacina está ficando menor. Muitas pessoas permanecem não vacinadas, mas há menor fervor sobre isso”, disse Clayton Allen, diretor de análises políticas da Consultoria Eurasia Group, à BBC. “Essa abordagem tem o benefício de suavizar sua imagem aos eleitores suburbanos que não estão na extrema-direita, público que perdeu para Biden em 2020”.
Por fim, há uma parcela de eleitores que acredita que os comentários de Trump refletem uma preocupação com a saúde dos cidadãos. Isso porque o próprio Trump sofreu com a Covid-19. Os EUA têm a maior quantidade de óbitos por Covid-19 do mundo (quase 850 mil) e, apesar disso, uma grande taxa de não vacinados.
De acordo com cálculos do economista da Universidade de Zurique, David Yanagizawa-Drott, a taxa de mortalidade entre os republicanos é 28% maior do que entre os democratas.