17/03/2017 - 11:23
O presidente americano, Donald Trump, frequentemente acusado de ser protecionista, é também considerado um mercantilista pelos economistas, que não hesitam em remontar ao século XVII para encontrar as influências de sua política econômica.
“Do ponto de vista comercial, sim, sua visão é mercantilista, mas um mercantilismo recondicionado”, explica à AFP James Galbraith, professor de Economia da Universidade do Texas, referindo-se à ambição de Trump de reequilibrar a balança comercial de seu país.
O presidente americano estabeleceu como meta reduzir o déficit comercial de seu país, e acusa os países que vendem muitos produtos aos Estados Unidos enquanto compram pouco.
A China, classificada por Trump de “maior ladra da história” durante sua campanha eleitoral, lidera essa lista negra, onde também estão México e Alemanha, cujos superávits comerciais batem recordes.
Para isso, o presidente americano faz ameaças, como as impôr fortes tarifas alfandegárias às importações.
“Precisamente, o mercantilismo consiste em favorecer as exportações e proteger as fronteiras para limitar as importações e evitar que a riqueza deixe o país”, ressalta Eric Berr, professor na Universidade de Burdeos.
Nos reinos onde o manual mercantilista foi aplicado, como a França de Colbert, e também a Espanha o Inglaterra, “a economia devia estar ao serviço do rei”, lembra.
“Manter a riqueza no país servia para financiar um exército, o que permitia conquistar outros territórios e assegurar sua defesa”, acrescenta Berr.
Responsável pelo Conselho de Comércio Nacional, recém-criado e dependente da Casa Branca, Peter Navarro manteve recentemente esse mesmo tipo de linguagem: “Por razões econômicas e de segurança, é importante reequilibrar o comércio americano”, afirmou.
“Cada vez que há protecionismo, a tendência é, vendo as coisas de longe, dizer que se trata de mercantilismo”, constata Jean-Yves Grenier, diretor de pesquisa da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Ehess), especializado na história das ideias econômicas.
A China, por exemplo, foi muitas vezes apresentada como mercantilista nesses últimos anos por ter desenvolvido sua indústria favorecendo as exportações e limitando as importações. Em seus discursos, Trump deseja o mesmo para seu país.
– Trump “não é um rei” –
Para Grenier, Trump é mercantilista quando ameaça industriais —entre eles os fabricantes de automóveis— com a aplicação de medidas de represália caso tirem suas fábricas a outros países, para produzir mais barato.
“É uma ideia totalmente mercantilista”, que consiste em implementar “uma política econômica muito ofensiva para manter o trabalho no território nacional”, disse Grenier.
“Os mercantilistas querem uma balança comercial positiva” e portanto “uma balança-trabalho positiva, ou seja, fazer mais gente trabalhar no país do que no exterior”, explica.
Resta saber se essa política econômica, que inspirou as épocas pré-liberais, pode ter sucesso 200 anos mais tarde. Para Galbraith, a reposta é “não”.
“O presidente de Estados Unidos não é um rei, e suas medidas não vão se prolongar por décadas”, alega.
“Para convencer as empresas que invistam na produção nos Estados Unidos, Trump deve convencê-las de que suas medidas vão durar”, diz. Se não for assim, correm o risco de quebrar no dia em que “as tarifas alfandegárias forem reduzidas ou suprimidas”, explica Galbraith.
No comércio globalizado de hoje, os produtos chineses submetidos a essas tarifas podem ser substituídos por outros, procedentes de países como Vietnã ou Tailândia, que poderiam driblar as barreiras alfandegárias dos Estados Unidos, alerta Galbraith.