21/05/2003 - 7:00
Enquanto caminha pelos corredores da Central de Abastecimento de Vila Velha (ES), Gilberto Lopes cumprimenta calorosamente os comerciantes. Inspeciona com rigor legumes e verduras e faz as encomendas do dia. A rotina se repete várias vezes na semana. Lopes conhece bem os segredos da Ceasa. Até 1982, ele fazia parte do exército de carregadores de caixas de madeira que dão expediente no local. Hoje é dono de uma quitanda de luxo. Na verdade, uma rede que conta com 22 lojas espalhadas por cidades do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, cujas vendas somam R$ 120 milhões. ?Foi uma decisão ousada apostar na qualidade em detrimento do preço baixo?, avalia o empresário. Na última semana, Lopes foi a São Paulo inaugurar a unidade de Alphavile, região da Grande São Paulo que reúne condomínios de alto padrão. A filial, a maior delas com quatro mil metros quadrados, marca um novo momento da história da companhia: ?Entramos na fase de consolidação do negócio?, diz Antônio Fachetti, sócio de Lopes na Hortigil Hortifruti S/A, empresa que administra a bandeira. Juntos, eles detém 70% das ações. Neste ano, vão ser investidos R$ 14 milhões em novas lojas e na modernização das existentes. São Paulo é o alvo prioritário pois responde por 25% das vendas. Além disto, serão construídos dois Centros de Distribuição.
Fruto de uma aposta ousada do ex-carregador da Ceasa, o Hortifruti é, sem dúvida, um caso de sucesso no ramo varejista a começar pelo formato e o estilo de gestão. A idéia nasceu da cabeça de Lopes, enquanto ele trabalhava no sacolão Feira da Economia. Ousado, ele propôs ao patrão Paulo Hertel trocar àquele tipo de negócio por algo diferenciado. ?Não copiamos o modelo de nenhum supermercado ou empório. Fizemos tudo de modo intuitivo?, conta Lopes. O segredo foi a capacidade de transpor para o ambiente fechado a atmosfera das feiras livres; com legumes e verduras frescas dispostas em tabuleiros de fácil acesso para o consumidor. Para diferenciar-se da concorrência, eles incluíram uma seção com produtos exóticos (importados da Ásia), além de uma seção de frios (laticínios e carnes silvestres) no cardápio.
O próximo passo da dupla é montar um centro de distribuição na Serra Gaúcha e outro próximo a Petrolina (PE). Independentemente do local, os fornecedores têm de entregar a mercadoria no ponto-de-venda em até 24 horas após a colheita. O planejamento logístico é fundamental: são 80 veículos próprios além daqueles utilizados pelos produtores. O centro ajudará a melhorar o controle de qualidade e dará agilidade ao processo. ?Com isto, faremos o descarte de produtos fora do nosso padrão já na origem?, completa. O ?carregador? foi longe. Ao lado dos sócios, ele pilota um negócio que cresce a uma taxa superior a 15% ao ano, atende a um milhão de clientes e movimenta 13 mil toneladas de alimentos por ano.