Por Tyler Clifford e Nathan Layne

NOVA YORK (Reuters) – Vinte anos depois de aviões sequestrados atingirem as torres do World Trade Center em Nova York e o Pentágono nos arredores de Washington, norte-americanos se reuniram neste sábado para honrar as quase 3 mil vidas perdidas em 11 de setembro de 2001 e refletir sobre como os ataques moldaram a visão de mundo do país, e a própria nação.

Com a presença do presidente Joe Biden, a cerimônia no memorial do 11 de setembro no sul de Manhattan começou com um momento de silêncio às 8h46, horário da costa leste dos Estados Unidos, momento exato em que o primeiro dos dois aviões atingiu as torres gêmeas do World Trade Center.

Mile Low, cuja filha era comissária de bordo no avião que atingiu a Torre Norte, descreveu a “dor insuportável” pela qual sua família passou nos últimos 20 anos.

“Enquanto recitamos os nomes dos que perdemos, minha memória retorna para aquele dia terrível quando pareceu que um espectro ruim havia descido ao nosso mundo, mas também foi um momento em que muitas pessoas agiram de uma maneira fora do comum.”

Parentes, então, começaram a ler em voz alta os nomes das 2.977 vítimas para as milhares de pessoas que se reuniram em uma manhã limpa e fresca. Entre elas, estavam o ex-presidente Barack Obama e Hillary Clinton, senadora por Nova York na época dos ataques.

Após deixar o marco zero, Biden rumou para Shanksville, Pensilvânia, onde o voo 93 foi abatido depois que os passageiros lutaram para recuperar o controle do avião sequestrado. Sua última visita será ao Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos EUA em Arlington, Virgínia, para homenagear as 184 pessoas que morreram no acidente do voo 77.

As cerimônias se tornaram uma tradição anual, mas este sábado tem significado especial, por ser 20 anos depois da manhã que muitos veem como um ponto de inflexão na história dos EUA, um dia que deu aos norte-americanos um senso de vulnerabilidade que influenciou profundamente a vida política do país desde então.

Em um lembrete doloroso dessas mudanças, apenas semanas atrás as forças aliadas e dos EUA completaram uma retirada caótica da guerra que os Estados Unidos começaram no Afeganistão em retaliação aos ataques – que se tornou a guerra mais longeva da história dos EUA. E a pandemia de Covid-19, que até agora tirou mais de 655.000 vidas nos Estados Unidos, continua.

Clifford Chanin, vice-presidente executivo do Memorial e Museu Nacional 11 de Setembro, construído no local do ataque ao World Trade Center, disse que a marca de duas décadas serve como um “momento de muita emoção” para o país, um momento para considerar “onde estivemos e para onde estamos indo”.

“Claro, estamos no meio de outro evento inimaginável neste momento, com a pandemia de Covid-19, mas, se o 11 de Setembro nos trouxe alguma coisa em termos do que aconteceu aqui e nos outros locais atacados, é uma mensagem de resiliência”, disse Chanin a repórteres esta semana.

Ao pôr do sol, 88 poderosas lâmpadas projetarão dois feixes gêmeos de 6,4 km em direção ao céu para espelhar as torres derrubadas. Este ano, prédios em Manhattan, incluindo o Empire State e a Metropolitan Opera, se juntarão às comemorações iluminando suas fachadas de azul.

Também marcando o aniversário, os times de beisebol do New York Mets e do New York Yankees se enfrentarão na noite de sábado, parte de uma Subway Series (nome das séries de confrontos entre os dois times de Nova York) especial e a primeira vez que eles jogam em 11 de setembro desde os ataques. Os jogadores usarão bonés com o logo do Departamento de Bombeiro da Cidade de Nova York e outras equipes de resgate.

“CORAÇÃO PARTIDO”

No marco de 20 anos, líderes políticos e educadores se preocupam com a memória coletiva cada vez menor daquele dia. Cerca de 75 milhões de norte-americanos – quase um quarto da população estimada dos EUA – nasceram desde 11 de setembro de 2001.

Para alguns, os eventos tumultuados do Afeganistão aumentaram o impacto psicológico do dia, o que gerou questionamentos se a missão militar dos EUA naquele país foi em vão.

“Eu amo os Estados Unidos e meus conterrâneos norte-americanos, mas fico envergonhada com a maneira como lidamos com nossa saída e de coração partido pelas vidas que foram perdidas ou destruídas pelas nossas ações”, disse Wells Noonan, cujo irmão Robby estava na Torre Norte.

Enquanto muitos dos maiores eventos aconteciam em Nova York ou nos arredores, ao redor do país eventos foram planejados para lembrar os que morreram e educar o público.

No Pentágono, quartel-general do Departamento de Defesa dos EUA, uma bandeira norte-americana foi estendida no lado oeste, onde um avião atingiu o prédio em 11 de setembro de 2001. O departamento também deve realizar uma cerimônia privada para honrar as 184 pessoas que morreram no local.

Em Shanksville, sudoeste da Pensilvânia, familiares e convidados se reunirão no Memorial Nacional para honrar as 40 pessoas que morreram quando o voo 93 da United Airlines caiu em um campo. O ex-presidente George W. Bush, que assumiu o poder oito meses antes de os ataques mudarem a trajetória da sua presidência, falou na cerimônia em Shanksville.

(Reportagem de Tyler Clifford em New York e Nathan Layne em Wilton, Connecticut)

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