É natural que instrumentos monetários sejam movidos ao sabor das circunstâncias, para recolocar esse ou aquele plano de condução da economia na trilha do crescimento. Também é razoável supor que o alcance dos resultados desses ajustes seja limitado e que, dentro da matriz de alternativas possíveis, rever posições seja louvável. Tome-se, por exemplo, o caso mais recente de esforço deliberado do governo em baixar, ou no mínimo manter equilibrado, o câmbio do real com o dólar. Seguidos movimentos e leilões foram feitos nos últimos dias para provocar a queda da cotação. E ela alcançou de fato o menor nível em um período de dez meses, invertendo radicalmente a rota. 

 

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Até pouco tempo atrás o empenho das autoridades era no sentido de desvalorização da moeda nacional para desafogar exportações e inibir gastos externos. Com a ameaça de repique inflacionário neste início de ano, o BC achou por bem recorrer à ferramenta cambial para o controle de preços, deixando a variação entre as duas moedas navegando numa banda bem estreita. É, não há dúvida, uma mexida assertiva. Do mesmo modo, parece estar em andamento uma sutil revisão de entendimento sobre a importância de se manter rígida a chamada meta fiscal, hoje da ordem de 3% do PIB. O apetite fiscal que fez a Receita bater recordes seguidos de arrecadação de impostos já não é mais o mesmo, dada a política, altamente positiva, diga-se de passagem, de desoneração da iniciativa privada. 

 

A liberação crescente de crédito através de linhas oficiais, aliada à crescente necessidade de investimentos públicos – muitos dos quais previstos dentro do PAC –, contribui para que, muitos esperam, seja uma temporada de flexibilização dos superávits primários. Analistas em geral são críticos ferrenhos dessa alternativa, por entenderem que se abre, assim, um perigoso precedente rumo ao descontrole das contas do Tesouro. Por outro lado, é sempre prudente lembrar, não há como exigir que o Estado cumpra seu papel de motor do desenvolvimento imaginando que isso não demande algum custo. O momento está a pedir essa quebra de paradigma, da mesma maneira que lá atrás foi iniciada a bem-sucedida batalha pela queda dos juros através dos bancos estatais, que gerou descrença, mas depois conquistou todo o sistema financeiro.