Quando assumiu o comando mundial da Schering-Plough Corporation há três anos, o paquistanês Fred Hassan traçou um novo caminho para a fabricante americana de remédios. De sua sala na sede da companhia, em Kenilworth, Nova Jersey (EUA), ele despachou as diretrizes para o grupo. E nelas, o Brasil recebeu tratamento diferenciado. A primeira sinalização dessa reverência veio com a ordem da matriz para que a filial brasileira desfizesse a joint venture que mantinha no Brasil. Dito e feito. Depois de manter uma parceria de 15 anos com o laboratório nacional Mantefarma, a Schering-Plough anunciou o fim da associação em junho. ?As medidas anunciadas fazem parte da estratégia de longo prazo de expansão mundial da Schering Plough?, avisa Hassan, presidente e CEO da Schering-Plough Corporation. Ele está falando da aposta do grupo no BRICK, sigla em inglês para o bloco dos países emergentes com maior potencial econômico, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e Coréia. E, no meio dessa turma toda, o mercado brasileiro é o maior destaque. ?Somos hoje o maior mercado farmacêutico entre os emergentes, respondendo por 1,4% das vendas mundiais de medicamentos?, diz Miguel Porto, presidente da Schering-Plough do Brasil. A indústria farmacêutica local movimenta US$ 100 milhões.

Apesar da ruptura, a duas empresas continuarão funcionando sob bandeiras próprias. A Mantefarma passa a atender pelo nome de Mantecorp e a Schering-Plough mantém sua denominação original. O processo de separação levou seis meses para ser concluído. ?Mas aconteceu de forma amistosa?, jura Porto. Durante esse período, as companhias se reuniram várias vezes para acertar a divisão de bens. Como acontece com qualquer casal, ninguém quer sair em desvantagem de uma união de tantos anos. Ainda mais quando a partilha envolve valores milionários ? as vendas líquidas das duas empresas somaram R$ 650 milhões em 2005. De forma geral, o acerto ficou assim: a Mantecorp assumiu os produtos de balcão (aqueles que o consumidor compra na farmácia sem a necessidade de prescrição médica) e a Schering ficou com o controle dos medicamentos vendidos com receita.

Com as mudanças, a Mantecorp estréia no mercado com 26 dos 40 medicamentos que eram produzidos pela joint-venture, como o antigripal Coristina, o antialérgico Polaramine, o antiinflamatório Quadriderm e o corticóide Diprospan. A nova Schering-Plough assume a comercialização dos produtos de maior valor agregado, voltados para doenças respiratórias, cardiovasculares, oncológicas e viróticas, a maioria deles importados. O acordo prevê ainda um licenciamento de dois anos para a Mantecorp da linha de protetores solares Coppertone e do medicamento Remicade, indicado para o tratamento de artrite reumatóide. A fábrica de Jacarepaguá (RJ) fica com a Mantecorp, que continuará a produzir ali alguns produtos da ex-sócia. A Schering não pretende a curto prazo abrir uma nova unidade fabril, deve apenas montar um centro de distribuição. Num primeiro momento, a Schering-Plough ficará com a fatia menor do bolo. Para 2007, a empresa prevê faturamento de R$ 250 milhões. Mas, daqui a dois anos, quando a Mantecorp lhe devolver as marcas Coppertone e Remicade, a Schering estará agregando mais R$ 125 milhões à receita. Outra aposta da Schering-Plough é a linha de medicamentos para o controle do nível do colesterol, o Zetia e o Zetsim, que hoje responde por 10% das vendas mundiais do grupo, de US$ 9,5 bilhões, em 2005.

A grande jogada da companhia americana, no entanto, ainda está por vir. Trata-se do Noxafil (nome para o mercado americano), que estréia uma nova classe de fungicidas ? medicamento indicado para infecções complexas. O produto, que promete controlar infecções hospitalares, deve ser lançado em breve no mercado europeu e chegar no Brasil até 2008. ?Estamos jogando nossas fichas neste lançamento?, afirma Porto.

O ingrediente principal do mercado de jeans é a inovação. Para competir com os preços e modelos de rivais externos, as fabricantes brasileiras do denim se viram do avesso para tornar realidade os pedidos malucos dos estilistas. Na última edição da São Paulo Fashion Week, causaram furor as calças mostradas pelas grifes Cavalera, Zoomp e Ellus. Elas tinham, respectivamente, fios de ouro na trama do tecido, estampas que imitavam couro de crocodilo e jatos de purpurina que davam à peça uma aspecto metalizado. Tudo possível graças à tecnologia de ponta, que ajuda as fabricantes de denim a conquistar inclusive a clientela internacional. As empresas brasileiras têm seus próprios laboratórios de desenvolvimento e pesquisa, de onde saem infinitas variações que transformam o tecido rústico inicialmente usado como lona de caminhão em verdadeiros objetos de desejo. Todo esse empenho deu às empresas do Brasil o status de fornecedoras das grifes mais importantes de jeanswear do mundo: Zara, Calvin Klein, Levi?s, Miss Sixty, Replay, quase todas bebem do denim brasileiro. As grifes tupiniquins se aproveitam de tanta tecnologia na porta de casa e se abastecem da mesma fonte. ?Hoje, 95% do denim que uso vem da Vicunha e da Santista?, afirma Renato Kherlakian, dono da pioneira Zoomp, a primeira marca nacional a exportar jeans e que hoje tem lojas até na Indonésia. ?Nossa matéria-prima é incomparável, porque os fabricantes estão há anos comprando maquinários modernos.? Mas inovar sem capacidade de produzir seria perda de tempo. Tanto Vicunha quanto Santista têm feito investimentos significativos para aumentar suas capacidades de produção.