A potência do dragão chinês está menor que a esperada. A segunda maior economia do planeta divulgou um crescimento de 3,9% no PIB do terceiro trimestre de 2022, número abaixo dos 5,5% da meta do governo local. Essa chama mais fraca deve-se à queda de 4,2% do setor imobiliário, que veio como uma flecha para ferir e desestabilizar o gigante asiático. Com um dragão mais frágil e uma chama menor, o desaquecimento passa a ser algo que afeta inclusive algumas empresas brasileiras, como Vale, Usiminas, CSN e CSN Mineração.

“A China é hoje o maior produtor de aço e a maior consumidora de minério de ferro do mundo. Para se ter ideia, em 2021, o país comprou quase 70% das exportações mundiais de minério de ferro”, afirmou o especialista de renda variável da Acqua Vero, Heitor de Nicola.

Ele comenta que o fraco crescimento chinês impacta diretamente as exportações das empresas desse setor, principalmente no caso da Vale, uma vez que cerca de 50% das exportações anuais da empresa vão para o país. Isso gera efeito direto em seus resultados.

E foi nessa tendência de desaquecimento que os balanços dessas empresas se apresentaram no terceiro trimestre. A primeira a divulgar os números foi a Vale, que teve lucro líquido de US$ 4,45 bilhões. Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, a companhia encontrou dificuldades para obter mais receitas. “O volume de produção e vendas da Vale vieram em linha, mas a queda do minério de ferro causada pela desaceleração da economia chinesa atrapalhou a monetização da empresa”, disse.

Para os especialistas da Terra Investimentos Régis Chinchila e Luis Novaes, essa menor conversão impactou na geração de caixa, que é medida pelo Ebitda. “O resultado disso foi um Ebitda muito abaixo do que se projetava”, afirmaram. Por outro lado, eles observaram que a empresa teve uma redução do endividamento. “A dívida que já estava próximo ao teto da meta, em US$ 20 bilhões, caiu para próximo dos US$ 13 bilhões”, disseram Chinchila e Novaes.

Thiago Bernardes

“A mineradora Vale continua sendo a melhor pagadora de dividendos, pois mesmo com um resultado fraco, os números ainda são muito mais robustos” Pedro Galdi, analista da Mirae Asset.

Já a CSN foi impactada drasticamente pela alta nos custos, o que causou uma redução de 17% na geração de caixa medida pelo Ebitda.

“O Ebitda foi impactado negativamente pela queda dos preços do minério de ferro e do aço doméstico, principalmente por causa de custos inflados e se ajustando em um ritmo defasado em relação ao faturamento”, afirmou Heitor de Nicola, da Acqua Vero.

Todavia, Nicola comenta que o fluxo de caixa, que ficou em R$ 3,16 bilhões, foi algo positivo para empresa, mesmo que esse resultado venha de ganhos de capital de giro não recorrentes.

A afiliada CSN Mineração sentiu o menor crescimento chinês, mesmo após ter uma expansão nas vendas ao longo do trimestre. “A empresa teve suas margens pressionadas e em consequência teve um resultado menor. Para piorar, a companhia teve um corte na meta de produção do minério de ferro”, afirmaram Régis Chinchila e Luis Novaes, da Terra.

Já a Usiminas divide opiniões. Para os analistas da Mirae Asset e Terra Investimentos a empresa teve o melhor desempenho do setor. “Os números vieram um pouco acima da expectativa, o que foi positivo para empresa”, afirmou Pedro Galdi, da Mirae Asset.
Por outro ângulo, o analista da Ativa Investimentos disse que os números da Usiminas não foram bons, mas o mercado que estava pessimista demais com a empresa.

Segundo Arbetman, o cenário continua o mesmo, a Usiminas depende da economia doméstica, que está desaquecida por causa da alta de juros, o que gera uma redução na demanda local por aço.

“A demanda menor deve continuar, e para piorar o preço do aço brasileiro está 20% mais caro que o do mercado internacional, o que dificulta ainda mais as vendas da empresa”, disse Arbetman.

Galdi aponta que a Vale deve ser a que mais pagará dividendos. “Sem sombra de dúvidas, a Vale vai continuar como maior pagadora de dividendos do setor, pois mesmo que tenha apresentado números não tão bons, ela ainda gera muito mais caixa que as demais”, disse.

Enquanto isso, Nicola, da Aqua Vero, estima que 2023 pode ser um ano melhor. “Há um tom otimista com uma melhora da perspectiva do cenário chinês, o que tende a beneficiar mais os resultados da mineradora Vale”, disse o analista. Ou seja, o fogo do dragão ainda pode despertar e a sua chama reacender a Vale e as siderúrgicas.