Os mercados estão aliviados porque Mario Draghi seguirá como primeiro-ministro da Itália, graças à reeleição de Sergio Mattarella como presidente. No entanto, o desafio econômico que ele tem pela frente é imenso.

O segundo capítulo da história desta coalizão no poder, que reúne quase todos os partidos, começou nesta segunda-feira (31), mas as profundas divisões surgidas durante a busca por um candidato de consenso para a Presidência podem ter consequências, afirmam os analistas.

A permanência de Draghi no governo é “uma boa notícia porque ele é o único que pode garantir a unidade desta coalizão”, declarou à AFP o economista Carlo Cottarelli.

Contudo, “uma coalizão que não conseguiu entrar em acordo sobre um novo presidente” e teve que pedir ao anterior para ficar “será capaz de aplicar um programa econômico extremamente complexo, especialmente em um ano pré-eleitoral?”, questiona o especialista.

Este é um resumo dos principais projetos econômicos:

– Dúvidas sobre o crescimento –

Após conseguir um crescimento econômico de 6,5% em 2021, o mais alto em décadas, a variante ômicron, o aumento dos preços da energia e as dificuldades de abastecimento das empresas estão colocando água no chope italiano.

O crescimento desacelerou “bruscamente” no último trimestre de 2021, advertiu o banco central italiano, que reduziu sua previsão para 2022 de 4% para 3,8%.

O estado de ânimo das empresas também está em queda, já que o índice de confiança atingiu em janeiro o seu nível mais baixo em nove meses. A inflação, por sua vez, bateu 4,2% em 2021 e pesa sobre as perspectivas de crescimento.

Segundo a Confindustria, a principal organização patronal do país, o aumento dos preços da energia deve reduzir o PIB em “pelo menos 0,8%” em 2022.

– Plano de recuperação –

Para estimular o crescimento, a Itália pode contar com o plano de recuperação europeu, que deveria fomentar a recuperação pós-pandemia e do qual é o principal beneficiário, com 191,5 bilhões de euros no período 2021-2026.

A Itália, que tem fama de gastar mal os recursos da União Europeia, conseguiu cumprir 51 objetivos acordados com Bruxelas em 2021 após receber uma primeira parcela de 24,9 bilhões de euros em agosto.

Em 2022, o país precisará cumprir 100 objetivos para receber outros 46 bilhões de euros.

Estão pendentes várias reformas iniciadas e requeridas há tempo pela Comissão Europeia, entre elas a reforma da previdência, num país que enfrenta forte redução dos índices de natalidade.

– Dívida pública colossal –

Ao longo dos anos, a Itália acumulou uma dívida gigantesca de quase 2,7 trilhões de euros, os seja, 153,5% do PIB no final de 2021, a proporção mais alta da zona do euro depois da Grécia, e muito além do limite de 60% estabelecido pelo Tratado de Maastricht.

Graças ao crescimento econômico, a Itália entrará em um círculo que lhe permitirá “pagar uma dívida sustentável”, tem assegurado Draghi repetidas vezes.

Bruxelas suspendeu as normas de disciplina orçamentária em 2020, uma medida sem precedentes adotada por causa da pandemia, mas que não pode durar para sempre.