A inflação continua a corroer os ganhos dos investidores em 2013. No ano passado, o índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou em 5,84%, abaixo dos 6,50% de 2011, é verdade. Na ponta do lápis, comparando-se esse desempenho com os juros de mercado de 8,31% medidos pelo Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), o retorno ao investidor ficou muito magro, principalmente quando se descontam os impostos e a taxa de administração cobrada pelos gestores. O IPCA de janeiro registrou uma alta de 0,86% – o maior índice para o mês desde 2003 – e, de acordo com o último relatório Focus, do Banco Central (BC), deve atingir 5,68% neste ano. 

 

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Como driblar o dragão da inflação e conseguir ganhos reais em aplicações financeiras? No ano passado, os fundos e títulos lastreados à inflação foram os mais rentáveis no mercado de renda fixa. Eles continuarão atrativos? Para Marcello Sadi, diretor da SulAmerica Investimentos, a resposta é sim, embora ele advirta que os ganhos serão inferiores aos do ano passado. Para ele, o investidor deve tomar alguns cuidados. “O cenário vai demandar muito mais conhecimento e análise para que se entenda o impacto que as mudança nos juros causam nos preços dos títulos atrelados à inflação”, afirma Sadi. 

 

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João Pedro Senna, da capitânia: ”o retorno de títulos já caiu pela metade”

 

Renato Roinzenblit, gestor da SLW Corretora, avalia que comparar o que ocorreu em 2012 com o que se espera para este ano é mau negócio. “É importante que o investidor não baseie sua decisão no que ocorreu no ano passado”, diz. Segundo ele, aplicar nesses papéis por meio do Tesouro Direto não é a melhor alternativa. Uma opção são os fundos de renda fixa índice ativos, em que os gestores compram e vendem esses papéis, em vez de adquiri-los e mantê-los em carteira até o vencimento. “O investidor deve procurar fundos que permitam maior intervenção do gestor”, diz. É o caso da Icatu Vanguarda, uma das primeiras gestoras do País a administrar fundos de inflação. 

 

Com retorno de 34,1% em 2012, o Icatu Vanguarda IPC Gold foi um dos mais rentáveis da categoria no ano e superou muitos fundos de ações. De acordo com Bruno Horovitz, responsável pela distribuição dos produtos da Icatu, o bom resultado se deve aos prazos mais longos dos títulos e à estratégia ativa. “Não assumimos riscos elevados na gestão, mas selecionamos os papéis com cuidado”, diz Horovitz. “Para o investidor que procura bons retornos e proteção contra a inflação, os títulos com prazos longos são a melhor alternativa.” João Pedro Senna, da Capitânia Investimentos, avalia que o momento ideal para aplicar em títulos indexados à inflação já ocorreu. 

 

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Marcello Sadi, da Sulamérica Investimentos: “o Cenário vai demandar muito mais conhecimento”

 

Em janeiro do ano passado, uma Nota do Tesouro Nacional – tipo B (NTN-B), com vencimento em dez anos, pagava IPCA mais 6%. Este ano, passou a pagar inflação mais 3%. “O retorno caiu pela metade”, diz Senna. Em 2012, o ganho dos títulos públicos atrelados a índices de preços, que têm uma posição prefixada, foi provocado pela queda mais acentuada que o esperado dos juros. Com taxas em baixa, o preço dos papéis subiu, melhorando a rentabilidade dos fundos. “Quem apostou na queda da Selic teve um ganho elevado”, afirma Luiz Monteiro, sócio da Queluz Investimentos. Para este ano, no entanto, a Selic mais baixa já está embutida no prêmio dos títulos.

 

ALTERNATIVAS O investidor que busca defender-se da inflação e quer fugir dos títulos públicos tem algumas alternativas. De acordo com Horovitz, da Icatu, uma delas são os fundos de renda fixa que aplicam em títulos privados corrigidos pela inflação. “Sair do risco soberano e passar para o risco privado vai ser uma estratégia cada vez mais buscada pelo investidor.” A vantagem, aponta Senna, da Capitânia, é que esses papéis podem oferecer taxas reais mais atrativas. Enquanto um título do governo paga inflação mais 3%, é possível encontrar títulos privados pagando inflação mais 8%. “O investidor, no entanto, tem de estar ciente dos riscos de crédito”, afirma Senna. 

 

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Bruno Horovitz, da Icatu Vanguarda: ”para o investidor que procura

bons retornos e proteção contra a inflação, títulos com prazos

mais longos são a melhor alternativa” 

 

Os títulos do governo não oferecem risco de calote, mas a empresa que emitiu títulos privados pode deixar de honrar seus compromissos. Outra opção são os fundos imobiliários, que possibilitam ao investidor ganhar com a variação da cota do fundo e com os rendimentos de aluguéis dos imóveis que fazem parte da carteira e são corrigidos pela inflação. “Além de serem vitaminados por uma inflação alta, nos fundos imobiliários os aluguéis são isentos de Imposto de Renda para a pessoa física, o que incrementa a rentabilidade”, afirma Roinzenblit, da SLW. A aplicação, no entanto, também tem seus riscos, como uma inadimplência do inquilino ou vacância dos imóveis. 

 

“Cabe ao investidor analisar com cuidado a relação risco e retorno, segundo seus objetivos”, diz. Para Senna, as mudanças na política monetária do Brasil e o processo de busca de ativos mais arriscados vieram para ficar e, mais do que nunca, o conceito de diversificação deve ser seguido pelo investidor. “Ganhar na renda fixa tradicional ficou mais difícil, mas ainda é necessário que o investidor tenha uma reserva líquida, nem que ela esteja exposta a um retorno menor”, afirma. Segundo ele, o novo cenário vai exigir mais atenção do investidor para enfrentar as manhas do dragão. “Informação e análise vão ser as palavras de ordem para 2013”, diz o gestor.

 

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