O ano era 1957 e seu Duda Hess, dono de um armazém na cidade de Luis Alves (SC), havia feito uma compra muito grande de tecidos que ficou encalhada por mais de um ano. Angelina, sua esposa, decidiu então se livrar daquele estoque que só ocupava espaço e dava prejuízo. 

Pegou um pedaço de papel, desenhou um modelo de camisa e, dentro de um quarto de sua casa, começou a costurar os trajes. Com as peças em mãos, foi vendê-las aos engenheiros que trabalhavam em uma obra próxima à cidade. Nascia assim, por um erro de cálculo, a Dudalina, hoje a maior fabricante de camisas masculinas do Brasil, com produção de 2,6 milhões de peças e faturamento estimado em R$ 175 milhões. 

 

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Sônia Hess, presidente: ”Estamos em um processo de transformação, migrando da indústria para o varejo”

 

Desde 2003, quando Sônia Hess de Souza assumiu a presidência da empresa, os movimentos da Dudalina passaram a ser muito bem calculados. De lá para cá, a empresa iniciou a produção de calças e malhas, deixou de ser totalmente masculina para lançar uma linha voltada para as mulheres, mas “sem frufrus”, como Sônia gosta de dizer. 

 

Agora, a marca parte para o projeto mais ambicioso de sua história: consolidar sua presença no varejo. Depois de abrir seis lojas em shoppings e aeroportos, a empresa vai inaugurar sua primeira loja de rua e até 2015 planeja ter 60 pontos de venda espalhados pelo País. “Estamos em um processo de transformação, migrando da indústria para o varejo”, diz Sônia à DINHEIRO. A empresa planeja um limite de 60 lojas. 

 

A transformação da indústria em uma marca de prestígio não é uma tarefa tão simples assim. A empresa teve de contratar a empresa especializada em varejo, a Franchise Store, para auxiliar no novo processo. “A maior dificuldade foi um possível conflito com os canais de vendas nos quais já atuamos e são nossos parceiros há anos. Temos muito cuidado e preocupação com isso”, diz Rui Hess de Souza, diretor de varejo da Dudalina. “Só montamos loja onde os nossos parceiros não têm pontos de venda.” O caminho é muito parecido com o de outras grifes que partiram para o varejo.

 

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Diversificação: a Dudalina possui três marcas próprias e vende para terceiros

 

A italiana Ermenegildo Zegna, por exemplo, era apenas uma fabricante de tecidos quando decidiu abrir sua primeira loja na década de 1980 – setenta anos depois de sua fundação. Isso permitiu à empresa cobrar mais por seus produtos e valorizar a marca com uma rede de 550 lojas em 86 países. Detalhe: 70% de seu faturamento de 870,6 milhões de euros é fruto de sua operação no varejo.

 

Outras marcas brasileiras (leia quadro), como Hering, Lupo, Hope e Puket, fizeram o mesmo. “É uma estratégia que tem dado resultados bastante positivos, fortalecendo as grifes”, diz Sylvio Mandel, consultor e presidente da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (ABVTEX). “São poucas as fabricantes que conseguiram se manter no mercado de camisas, como a Dudalina. Ela mostrará ainda mais o seu nome ao apostar no varejo”, diz Mandel. 

 

Hoje, a companhia, dona de quatro fábricas, vende produtos sob as marcas Individual, que foca o cliente mais abastado, Base, voltada para o público mais jovem, e Dudalina, com camisas clássicas. As peças da fabricante são comercializadas em mais de 1,8 mil pontos de venda de terceiros espalhados pelo País. 

 

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Cerca de 20% do que a empresa produz é voltado para linhas específicas de famosas grifes, como Brooksfield, Via Veneto, Daslu e Zara. As exportações, por sua vez, somam uma média de 200 mil camisas por mês para 50 países. Mas, se os planos de atuar com força total no varejo derem certo, o perfil das vendas da empresa mudará completamente. 

 

Se hoje a Dudalina comercializa 5% de suas peças em lojas próprias, a meta é chegar a pelo menos 30% em cinco anos. Um número que, definitivamente, transformará a vida de Sônia Hess. “Planejo me aposentar em cinco anos, participando apenas do conselho da empresa, mas não sei se conseguirei.”