duplamorgan1.jpgA AMÉRICA LATINA nunca esteve tão em alta na estratégia dos bancos americanos. Enquanto se esforçam para juntar os cacos da crise do subprime em seu próprio quintal ? coberto de prejuízos bilionários com as hipotecas de alto risco ?, as instituições financeiras americanas buscam novos lucros ao sul do Rio Bravo. Mas olham bem abaixo da fronteira com o México. E quem aparece no binóculo? O Brasil.

STEWART (À ESQ.) E GOLDBERG: promoções reforçam o ataque do banco na América Latina a partir de São Paulo

 

 

SINAL DOS TEMPOS.

Nem bem passou de devedor a credor externo líquido, o País tornou-se uma das principais apostas do Morgan Stanley para os próximos anos. Se alguém duvida pode perguntar aos dois senhores da foto acima. Charles Stewart e Daniel Goldberg não estão para brincadeiras. Ambos acabam de ser promovidos na hierarquia do banco americano. Irão comandar as operações de investimento na região a partir de São Paulo. Tudo com um respaldo inédito na história do banco, fundado em 1935 nos Estados Unidos e hoje presente em 33 países. Ao todo, o banco tem 150 funcionários no Brasil e também atua em setores como commodities, gestão de fortunas e imóveis. A explosão dos IPOs em 2007 e as boas perspectivas para a captação de recursos pelas empresas nos próximos anos fizeram o Morgan Stanley dobrar sua aposta local.

Para começar, a dupla dinâmica irá responder a um banqueiro veterano, Christopher Harland. No início de fevereiro, ele tornou-se o principal executivo do banco na América Latina. Harland é o primeiro chefão da região com assento no Comitê de Administração, a mais importante instância estratégica do Morgan. Tem 24 anos de casa e é um dos pilares da estratégia de avanço nos mercados emergentes. ?A América Latina agora tem status especial?, diz Stewart, que trabalhou no escritório paulistano do Morgan até 1999, casou-se com uma brasileira e hoje vive em Nova York. Aos 38 anos, Stewart está de mudança para São Paulo para chefiar o investment banking do Morgan no Brasil, no México e na Argentina. Sua presença local é pura estratégia: é aqui que estão as maiores empresas e as maiores operações da região. Acabou-se a era dos exércitos de banqueiros de investimento atacando o mercado a partir de Nova York. ?Quanto mais os mercados se tornam globais, mais os bancos têm de ter um atendimento local?, diz ele, em bom português. Nos últimos nove anos, ele participou de negócios de US$ 150 bilhões. Antes, atuou nas privatizações da Eletropaulo e da Telebrás.

Mas a época das grandes privatizações acabou e o mercado de capitais tornou-se a nova fronteira dos bancos de investimento. O País cresce 5% ao ano e o ambiente institucional e jurídico melhorou muito. ?A natureza do jogo mudou. O ambiente de negócios está pronto para garantir que o Brasil entre na fase de crescimento sustentável?, afirma Goldberg. Ele tem apenas 32 anos e, depois de um ano chefiando atividades de fusões e aquisições, foi alçado a chefe do banco de investimentos no País. Tem grandes negócios em seu cartão de visitas, como a compra de 65% da Serasa pela irlandesa Experian por R$ 2,3 bilhões e os IPOs da BM&F, da Brasil Brokers e da Cosan ? no total, o Morgan atuou em operacões de US$ 5,7 bilhões na bolsa em 2007. Mas Goldberg conta com um trunfo adicional, a passagem pelo governo federal numa área das mais sensíveis para as empresas: a defesa da concorrência. Até 2006, foi secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça. Ele deu muita canseira aos empresários em operações como a compra da Garoto pela Nestlé. Agora está atrás de maiores tacadas. ?Queremos crescer em todas as áreas?, diz. Qual será sua próxima investida?