A crise energética já está deixando a sua marca na economia global e nos bolsos de cada cidadão. Conforme expõe um novo relatório que apresenta vários cenários, elaborado pela Agência Internacional de Energia (em inglês, IEA), a solução passa, inevitavelmente, pela energia nuclear.

O relatório dá conta de três cenários diferentes e todos eles implicam uma presença maior da energia nuclear.

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Nos últimos meses, o preço da eletricidade e do gás tem atingido valores que, para muitas famílias, é incomportável, a médio e longo prazo. Estas subidas são o resultado de uma crise energética que, a par de outros problemas económicos, não profetizam um futuro animador.

Um dos organismos oficiais que tem como responsabilidade superar desafios desta dimensão é a IEA, uma organização internacional que atua como orientadora política dos assuntos energéticos dos seus 30 países-membros.

Recentemente, a IEA publicou um relatório sobre a crise energética que atravessamos, compilando três cenários possíveis para a superação deste problema. Surpreendentemente, ou não, todos eles contam com um elemento comum: a energia nuclear.

“Os mercados e as políticas energéticas não só mudaram agora, como também irão mudar nas próximas décadas.”

Esclareceu Fatih Birol, diretor executivo da AIE, numa declaração.

No relatório, a AIE argumenta que, tendo em conta a situação atual, a energia nuclear deveria ver o seu peso repensado e a sua importância aumentada. Além disso, menciona que a sua produção deverá duplicar até 2050, de modo a garantir uma resposta eficaz às necessidades energéticas futuras.

Cenários para contornar a crise energética incluem todos a energia nuclear

O primeiro cenário exposto pela AIE no seu novo relatório é conhecido como Stated Policies Scenario (STEPS) e propõe que a produção de energia nuclear deveria aumentar para 3.351 TWh, em 2030, e para 4.260 TWh, em 2050.

Além disso, as energias renováveis deveriam aumentar significativamente a sua presença, enquanto a energia nuclear manteria a sua atual quota de 10%. No entanto, este cenário exige a adição de 420 GW, até 2050 em 30 países.

O segundo cenário é o Announced Pledges Scenario (APS) e propõe que a produção de energia nuclear deveria aumentar para 3.547 TWh, em 2030, e 5.103 TWh, em 2050. Tal como no cenário anterior, esta forma de energia manteria a sua atual quota de 10%.

Por último, o cenário Emissões Líquidas Zero até 2050 (NZE). Este é o mais ambicioso de todos os propostos, uma vez que implica uma duplicação da produção nuclear até 2050.

Será isto concretizável?

Tornar isto possível exige o prolongamento da vida útil dos atuais reatores nucleares, mas exige também o aumento da produção de energia nuclear numa média de 24 GW, por ano, entre 2022 e 2050. Esta taxa de crescimento representa uma produção de 5.810 TWh, em 2050. Isto exigiria a entrada em funcionamento de novas centrais nucleares que deveriam contribuir para o balanço energético dos países com o aumento da procura por eletricidade.

De acordo com a AIE, os cenários permitirão reduzir a proporção de combustíveis fósseis no balanço energético global em pelo menos 20% até 2050, mas também levantam algumas dúvidas. Por exemplo, o facto de estas estratégias entrarem em conflito com o caminho da energia antinuclear defendido por alguns países, tais como Espanha e Alemanha. Mais do que isso, a abertura de uma central nuclear não é barata, nem pode ser conseguida de um dia para o outro.