04/11/2020 - 11:41
As autoridades austríacas tiveram de responder, nesta quarta (4), às críticas e dúvidas sobre a libertação antecipada da prisão do adepto do grupo extremista Estado Islâmico (EI) que assassinou quatro pessoas no centro de Viena na segunda-feira (2).
Dois dias depois do atentado, o primeiro de cunho islâmico da história austríaca, a polícia, que já prendeu 14 pessoas, ainda investiga a trajetória e os possíveis cúmplices do jihadista Kujtim Fejzulai, morto segunda-feira pelas forças de segurança.
+ Estado Islâmico reivindica atentado em Viena (agência de propaganda)
+ Autor do tiroteio em Viena era simpatizante do Estado Islâmico
Fejzulai, de 20 anos, da Macedônia do Norte, foi sentenciado em abril de 2019 a 22 meses de prisão por tentar viajar para a Síria para ingressar no EI. Acabou sendo solto antes de cumprir sua pena completa.
O primeiro-ministro austríaco, Sebastian Kurz, reconheceu que a soltura foi, “sem dúvida, um erro”.
“Se ele não tivesse sido libertado, o ataque não teria ocorrido”, disse o líder conservador em declarações à rádio-televisão pública.
Reivindicado pelo EI, o ataque de Viena ocorreu em meio a uma grande tensão na Europa em torno da ameaça jihadista, acentuada pelos recentes ataques em Nice e contra o professor francês Samuel Paty.
O ministro do Interior, Karl Nehammer, reconheceu que o autor conseguiu “enganar” o programa de desradicalização que estava seguindo e que isso refletia um “fracasso” da administração austríaca.
Durante uma entrevista com os agentes que o vigiavam, Fejzulai havia condenado os recentes ataques na França, explicou o diretor de Segurança Pública, Franz Ruf.
Nehammer também disse que foram encontradas fotos de Fejzulai recentemente compartilhadas no Facebook nas quais ele posava com uma Kalashnikov e um facão e exibia o slogan do EI.
– “Por que não perceberam?” –
“Ninguém pensava que ele fosse capaz de cometer um ataque desse tipo”, disse à AFP o advogado Nikolaus Rast, que o defendeu durante o julgamento em abril de 2019 e que o descreveu como um menino “introvertido” e “uma alma perdida procurando seu lugar” na sociedade.
“Sem querer botar o dedo na ferida, mas se eram especialistas, por que não perceberam (a radicalização)?”, questionou o advogado.
Nascido em 2000 ao sul de Viena, Kutjim Fejzulai passou toda sua vida na Áustria, mas começou a ter problemas na adolescência, tanto com os pais quanto na escola, e começou a frequentar uma mesquita, informou a imprensa local nesta quarta-feira.
“De acordo com as informações que temos atualmente, podemos dizer que houve apenas um agressor, que foi neutralizado pelos nossos homens”, declarou o diretor de Segurança Pública.
Mas as forças de segurança continuam em alerta e, na terça-feira, apreenderam “uma grande quantidade de material” e prenderam 14 pessoas.
“Elas podem ter fornecido apoio” ao autor, explicou Ruf.
A investigação também afetou outros países, e duas pessoas foram detidas na Suíça na terça-feira, onde Fejzulai tinha laços familiares.
Após o ataque, Kurz fez um apelo à União Europeia para melhorar a luta contra o “islã político”, uma “ideologia” que representa um “perigo” para o “modo de vida europeu”.
Kurz garantiu que está debatendo “iniciativas conjuntas” com o presidente francês, Emmanuel Macron.
Ontem, o dirigente francês denunciou “a vontade dos nossos inimigos de atacar o que é a Europa, esta terra de liberdade, cultura e valores”, depois de ter expressado sua solidariedade na embaixada austríaca em Paris.
Nesta quarta, os vienenses tentavam voltar à normalidade, após um ataque que coincidiu com a entrada em vigor esta semana de um novo confinamento na Áustria para conter a covid-19.
A republicação de charges de Maomé na França gerou uma onda de raiva no mundo muçulmano, e os apelos por ataques na Europa se multiplicaram.