Tem sido dura a vida dos ditadores dos países árabes nas últimas semanas. A revolta popular, que derrubou os governantes Zine el Abidine Ben Ali, da Tunísia, e Hosni Mubarak, do Egito, chegou com força à Líbia e desestabilizou o regime totalitário do coronel Muamar Kadafi. 

 

Logo agora que ele estava fazendo as pazes com os Estados Unidos, anos depois do atentado terrorista líbio que explodiu um avião da Pan Am sobre a Escócia, em 1988, seu povo resolve destroná-lo. 

 

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A forte repressão contra os oposicionistas tem deixado cadáveres em várias cidades do país e as notícias de deserções no Exército sugerem o que poucos imaginavam ser possível algumas semanas atrás: a mão de ferro do governo de Kadafi enferrujou e seus pés são de areia. Será? 

 

Estamos no século XXI e, cada vez mais, o sonho da liberdade e da democracia nos países árabes da África e no Oriente Médio parece estar ao alcance das mãos. 

 

É uma ótima notícia para a humanidade, em que pese o ceticismo dos especialistas quanto às chances reais de democratização nos países ora em ebulição. 

 

Na maioria deles, a concentração de poder está tão ligada às tradições políticas seculares quanto à fortuna que jorra da terra: o petróleo – eis, aqui, a maior fonte de preocupação de todos os países que somente agora condenam os ditadores em risco de xeque-mate, como os Estados Unidos e a França. 

 

Desde 17 de dezembro, quando o desempregado Mohamed Bouazizi ateou fogo ao próprio corpo e desencadeou os protestos na Tunísia, o preço do petróleo tipo Brent subiu mais de 25%. 

 

Na semana passada, o preço do barril já alcançava US$ 120 nos momentos de maior tensão, não tão longe dos US$ 140 do final de 2007. O temor que tem abalado os mercados financeiros é o de uma alta desenfreada do combustível fóssil. 

 

O que está em jogo nas ruas de Trípoli e Musratha é a frágil recuperação da economia dos países desenvolvidos, que poderá ser interrompida se a produção do petróleo escassear. 

 

Estima-se que, cada vez que o petróleo sobe US$ 10, o PIB mundial deixa de crescer 0,5 ponto percentual nos dois anos seguintes se a alta persistir. 

 

Cada centavo de dólar de alta nas bombas de combustível tira US$ 1 bilhão do bolso dos consumidores americanos. O Brasil, que está deitado em berço esplêndido da camada pré-sal e oferece a energia alternativa do etanol e dos biocombustíveis, pode tirar vantagens desse cenário. 

 

Sua trajetória de crescimento, ancorada na ascensão social das classes C e D e no consumo interno, não foi abalada pelas turbulências internacionais. 

 

Aqui, o perigo é outro, o descontrole das contas públicas e da inflação – que, embora em alta, ainda é de um dígito e está dentro da meta expandida do Banco Central. 

 

Ditadores vêm e vão, mas o dragão da inflação é duro e não morre. Sozinho no escuro, qual bicho do mato, ele está à espreita. Todo cuidado é pouco.