20/09/2006 - 7:00
Ahaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. O grito agudo acompanha o instante em que a raquete, levada pelo braço direito, bate na bola. Perna esquerda apoiada no piso, a direita ergue-se discretamente ? indiscreto é o modo com o qual o vestido preto, da Nike, ornado com cristais Swarovski, costas à mostra, também sobe e deixa entrever porções de um corpo de 59 quilos distribuídos em 1,88 m. Ahaaaaaaaaaaaaaaaaaaa. Seguem-se os urros, seguem-se os aces, o colar de diamantes balança ao vento, e lá vai Maria Sharapova rumo ao título do US Open, um dos quatro da nata do tênis. Aos 19 anos, essa russa nascida na Sibéria e criada na Flórida virou lenda precoce (cabe lembrar: e ela ainda joga bem). Tornou-se, mal saída da adolescência, uma máquina de marketing. No ano passado, apenas com a venda de seu nome, Sharapova amealhou US$ 20 milhões, o que a torna a atleta mais bem paga do mundo. Eis as marcas que a rodeiam, nas roupas, nos calçados, em outdoors, a cada minuto, 24 horas por dia: Nike, Motorola, Colgate, Land-Rover, Parlux, Prince, Tag-Heuer e Samantha, butique japonesa.
Nos Estados Unidos, ao término da partida diante da belga Justine-Henin Hardenne ( vitória por 6/4 ?6/4), ela sentou-se na cadeira, abriu um celular Motorola e ligou para o pai, na arquibancada (tudo combinado com o patrocinador). ?Com Maria estamos construindo uma marca?, diz Max Eisenbud, o agente que acompanha a moça desde os 11 anos de idade. ?Ela é uma mulher de negócios, entende perfeitamente seu papel na quadra e fora dela?. E como entende. Até o final do ano ela desembarcará no Brasil para o lançamento do perfume MariaSharapova, que ela mesmo ajudou a criar, testando fragrâncias desenvolvidas pelos especialistas da empresa Parlux. Com as roupas, deu-se o mesmo ? lote delas criada pela estilista Stella McCartney, filha de Paul. ?A inspiração do vestido preto que usei no US Open veio dos modelos de Audrey Hepburn no filme Bonequinha de Luxo?, disse Sharapova depois do título. ?Adoro sugerir detalhes aos estilistas?. Quem entende do riscado aprovou. ?Ela estava linda?, resume Glória Coelho. ?Sharapova inaugurou uma nova onda, a das roupas esportivas com jeitão de festa?. Glória aposta que, muito em breve, outros atletas entrarão nas quadras com ornamentos chiques como os da russa. ?Já é comum, hoje, ver marcas esportivas sendo usadas nas baladas, nas festas?, diz. ?Agora teremos o caminho contrário?. O vestido usado na final de Nova York será leiloado nos próximos dias, em benefício da Fundação Maria Sharapova de ajuda a crianças carentes (sim, ela também é politicamente correta). Um outro modelo, usado nas partidas diurnas ? lilás claro ? já era negociado em lojas de Nova York por US$ 90.
Tudo muito bacana, mas façamos uma suposição: e se ela fosse feia? ?Seria um fenômeno de mesmo tamanho?, diz José Carlos Brunoro, especialista em marketing esportivo. ?Lembremos que o Ronaldinho Gaúcho não é nenhum primor de beleza?. Daria errado se Maria Sharapova jogasse mal. O exemplo de uma outra musa prematura, a também russa Anna Kournikova, demonstra que só a estética não funciona. Tentou-se colar a Kournikova as mesmas etiquetas ricas de Sharapova e o fracasso veio rapidamente. Kournikova nunca ganhou um torneio de importância ? Sharapova, em terceiro lugar do ranking mundial, a caminho do primeiro, já venceu 13, entre eles dois do Grand Slam, o US Open da semana passada e Wimbledon, em 2004. Ali, com seus uniformes colantes e repletos de fendas, serviu de contraponto à austeridade branca, de saias plissadas, inaugurada pela brasileira Maria Esther Bueno nos anos 1950 e 1960 (leia no quadro ao lado). Chegou a vez de outra Maria, uma Maria do tempo da propaganda.