01/12/2004 - 8:00
No 12º andar do edifício da Telemig Celular em Belo Horizonte, uma verdadeira fortaleza guarda a mais recente tacada da operadora mineira de telefonia móvel: o projeto de estréia na tecnologia GSM. E a julgar pelo sistema de segurança implantado na sala secreta, não há dúvidas a respeito da importância da jogada. Do lado de dentro da porta, aberta somente quando o polegar de um funcionário identificado encosta na leitora digital, trabalham freneticamente cerca de 70 pessoas há sete meses. E, para aliviar o estresse, além do visual ?clean? e o colorido colorido do espaço, os executivos podem esmurrar um boneco inflável ou arremessar dardos contra três alvos pendurados na parede ? cada um deles exibe a marca da concorrência. É isso mesmo. Os logotipos da Tim, Vivo e Oi estão localizados ?bem na mosca?. Ricardo Grau, diretor-superintendente da Telemig, garante que é só diversão. ?É só aquele sentimento de vamos ganhar deles?, diz Grau. O fato é que o jogo vira realidade em 28 de novembro, quando a Telemig deixa de atuar só no TDMA de celular, reconheci-
damente mais obsoleto, e passa a disputar o GSM, setor conhecido pela Tim e Oi.
Uma Telemig GSM, contudo, também poderá significar um assédio maior por parte dos competidores, já que ela é sempre apontada no mercado como candidata a ser comprada por alguém. Até porque Minas Gerais se tornou a última fronteira para a consolidação da telefonia móvel no País. ?A tecnologia escolhida pela empresa dificulta as pretensões da Vivo e a coloca próxima de Claro ou BrasilTelecom. Essa última pertence ao mesmo grupo da Telemig, facilitando qualquer entendimento?, avalia Alex Pardellas, analista da ABN Amro Corretora. ?Mas ela poderá caminhar com as próprias pernas, embora tenha uma base pequena de clientes.? Grau desconsidera boatos. ?Não há nada?.
A briga no GSM promete ser boa e os cerca de 6,5 milhões de usuários de celulares em Minas só têm a ganhar com isso. Primeiro, porque a Telemig não economizou um tostão. Investiu R$ 250 milhões para implantar o que há de mais moderno em GSM, o GSM Edge. Se o tradicional TDMA da Telemig, cujo serviço não será cancelado, só envia mensagens de texto, o Edge é capaz de transmitir fotos, dados
e ainda navegar na internet. É claro que os concorrentes também fazem muitos desses serviços, mas Grau garante que o seu é mais veloz. ?Pode até quadruplicar a transmissão de dados?, diz.
Grau não teve sucesso quando apresentou o plano pela primeira vez ao conselho de administração. Recebeu um sonoro não. Mas na segunda tentativa, quando foi à sede do Opportunity no Rio de Janeiro, que é quem efetivamente toca a Telemig, chegou com argumentos imbatíveis. Um deles: a produção dos aparelhos TDMA está caindo e os fabricantes já haviam procurado a empresa para saber o tamanho do volume de pedidos. O sinal verde veio em boa hora, porque a operadora tinha acabado de arrematar a licença para atuar no Triângulo Mineiro, única região do Estado em que ainda não podia vender seus serviços. Pagou quase R$ 10 milhões por isso. Um belo presente de fim de ano.
Sem dívidas e com rentabilidade de 28%, a Telemig fatura R$ 1,09 bilhão por ano. Grau, porém, adotou a reserva nos comentários sobre a nova estratégia. Só diz que o seu cliente TDMA está livre para migrar para o GSM. Não há prazo. Muda quando e se quiser, já que poderá manter o número antigo. Analistas acreditam que a estratégia trará resultados. O número de usuários deverá pular dos atuais 2,5 milhões para 3,5 milhões em um ano. E o melhor de tudo é que metade disso deverá ser de GSM até dezembro de 2005.
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