12/07/2000 - 7:00
Vicente Fox Quesada foi eleito presidente do México, no dia 2, depois de percorrer o país com suas botas de caubói e pedir o voto ao eleitor em uma linguagem cheia de gírias. As cenas de campanha lembravam a descontração e a ousadia comuns nas propagandas de televisão. Para tirar o Partido Revolucionário Institucional (PRI) do poder, onde estava instalado há 71 anos, Fox, hoje com 57 anos, teve de ser um excelente garoto-propaganda de sua proposta de mudanças. Nada melhor para isso do que uma escola com experiência internacional em marketing: a Coca-Cola. Durante 14 anos, ele trabalhou nesta companhia no México ? hoje a segunda maior operação da multinacional de refrigerantes no mundo. Ali, Fox teve uma carreira bem-sucedida e uma ascensão meteórica. ?Depois de 71 anos acostumado a uma bebida, é difícil ao povo mudar o hábito, mas chegou a hora?, pregou ele nos palanques eleitorais do Partido de Ação Nacional (PAN). Na época da Coca-Cola, o discurso do executivo teria uma mensagem inversa. De qualquer forma, o apelo vem, claramente, do molde que transforma em comerciais de tevê a estratégia das grandes companhias: a oportunidade. A experiência na briga pela preferência do consumidor, à frente da Coca-Cola, foi-lhe útil na política. Foi este talento que levou o jovem de 22 anos, de simples entregador de refrigerantes de um distrito da capital do país, à presidência da filial mexicana. Aos 36 anos, quando deixou a multinacional, já era o comandante na América Central.
Vicente Fox tornou-se executivo bem-sucedido por sua obediência à uma fórmula simples: acordou cedo todos os dias e trabalhou até tarde, com uma equipe estimulada e recrutada nas melhores salas de aula, como atesta sua ex-secretária Luz Maria Aguillar, em entrevista à DINHEIRO. ?O expediente começava às nove. Ele sempre chegava antes das sete. Era um madrugador?. Fox conseguiu grandes vitórias na presidência da Coca-Cola. De acordo com fontes do setor, ele ampliou a participação deste refrigerante no mercado, no período em que esteve lá, de 58% para 63%. Não é pouca coisa para um filho de rancheiros de Guanajuato. No comando da filial mexicana da multinacional, ele deixou sua principal marca: a renovação de quadros. Chegou a peregrinar por faculdades mexicanas em busca de jovens talentos. Não é à toa que esta é também a promessa do presidente eleito, mudanças na máquina estatal mexicana, hoje ocupada pelos quadros do PRI.
O currículo do executivo da Coca-Cola foi bastante explorado na eleição. Os adversários alegavam que um ?gerente? de companhia não está capacitado para chefiar o governo. Já os aliados rebatiam: ?Como empresário, Fox tem a visão necessária para modernizar o México?, defende uma jornalista. Na Coca-Cola, Fox também enfrentou períodos turbulentos. Havia uma disputa ferrenha entre os engarrafadores pela divisão de territórios. ?Fox negociou com todos eles, demarcou regiões e pôs fim à briga?, lembra Luz Maria. Luis Lobão, ex-presidente da Coca-Cola do Brasil e comandante da filial mexicana no início dos anos 90, conta que conheceu Fox já governador de Guanajuato. ?Sabia da admiração dos funcionários da Coca por ele, mas não imaginava que iria encontrar uma figura tão carismática?, observa Lobão. Parte da admiração dos empregados da Coca-Cola por Fox está diretamente ligada ao bolso. Foi o atual presidente mexicano que implementou a política de remuneração por resultados na empresa. Com isso, Fox estimulou a competitividade, interna e externa. Cada departamento da Coca-Cola queria provar mais que o outro e o saldo final era o crescimento da companhia. Agora tenta o mesmo com o país.