Escolhido na quinta-feira 3 o candidato republicano à eleição presidencial americana ? George W. Bush, 54 anos, governador do Texas e filho do ex-presidente George Bush ? começa agora, pra valer, o grande debate sobre o futuro dos Estados Unidos: como gastar o superávit fiscal de US$ 2,4 trilhões que o país vai acumular nos próximos 10 anos. Dentro de alguns dias, quando o Partido Democrata confirmar o vice-presidente Al Gore como seu candidato, estarão frente a frente duas biografias parecidas de moços ricos e duas visões semelhantes para o país. Elas disputarão os eleitores até o início de novembro.

Bush, um empresário texano sem grandes luzes mas intensa capacidade de comunicação, defende o que sempre defenderam os republicanos: liberdade de mercado e de comércio, corte de impostos e posições morais conservadoras. Gore, conhecido pela lealdade que demonstrou a Clinton durante o seu inferno político-sexual, e por suas firmes posições ambientalistas, diz que vai, como bom democrata, dividir a inédita prosperidade americana com os pobres, sobretudo através de investimentos em saúde e educação. As duas promessas dependem do superávit. Bush Júnior quer transformá-lo em uma redução de impostos de US$ 1,7 trilhão, e usar o excedente para melhorar a vida dos desfavorecidos. Gore promete investir o grosso do superávit no social, e usar o resto em redução da dívida pública ? como quer Alan Greenspan, presidente do Federal Reserve, o banco central americano.

Até agora, Bush tem estado na frente das pesquisas por 3 ou 4 pontos percentuais, mas a campanha apenas começou. Agora haverá debates na TV e serão gastos cerca de US$ 500 milhões em propaganda, na mais cara campanha que os Estados Unidos já viram. Ninguém sabe prever quem vai ganhar, embora Bush já esteja cantando vitória. Parte da dificuldade em antecipar o comportamento do eleitorado está no fato de que esta parece ser a primeira eleição da Nova Economia. Depois de nove anos de crescimento contínuo, e de uma explosão de riqueza e produtividade criada pela indústria de tecnologia, os EUA mudaram, e com ele a classe média branca que vai definir a eleição. Não foi à toa que Bush Jr. tentou na quinta-feira apontar as raízes da atual fartura nas gestões de Ronald Reagan e Bush Pai ? o último republicano a sentar na Casa Branca, oito anos atrás. Pesquisas mostram que os eleitores associam a bonança da Nova Economia à figura grisalha do impetuoso presidente democrata. Por outro lado, as mesmas pesquisas indicam que o novo eleitor não tem compromisso partidário. É conservador em economia e liberal em questões sociais. Em princípio estaria mais para Gore, mas Bush Jr. pode seduzi-lo mostrando-se mais inteligente e preparado que o oponente. O pessoal dos computadores e do mercado crê em competência pessoal acima de qualquer outra coisa.

Na semana passada, por conta da fanfarra da convenção republicana na Filadélfia, os olhos estavam voltados para Bush e sua ?prosperidade com propósito?. A ex-ovelha negra da família Bush quer se apresentar como um conservador com coração, amigo das minorias. Ao mesmo tempo, o rebento mais velho de George e Bárbara Bush postula-se herdeiro de uma dinastia familiar de milionários, que representa os valores e o sucesso da plutocracia dos EUA. No fundo, vende-se a idéia monárquica atrasada de que liderança é hereditária. Clinton, que veio da pobreza e subiu na vida estudando, apesar do padrasto violento e alcoólatra, irritou-se com a encenação imperial. Disse que Bush Jr. é um ?menino rico mimado? cuja ?papai? fora presidente. Pegou mal, mas pode ter sido no alvo.