A Fundação Rockefeller é um exemplo de famílias multibilionárias, dos Estados Unidos, que destinaram parte de sua riqueza para causas sociais. Ao completar 100 anos, em 2013, a entidade lançou o projeto global 100 Cidades Resilientes. Orçado em US$ 100 milhões, ele tem por objetivo ajudar as maiores cidades do mundo a superar os problemas provocados pelas mudanças climáticas. “É preciso estruturar as cidades para que elas aprendam a conviver com as adversidades”, diz Peter Madonia, diretor de operações da fundação.

O debate em torno das mudanças climáticas não acabou ofuscando a agenda social nos países? 
De certa forma, sim. Muitas empresas ainda não compreenderam que tão importante como se adaptar aos efeitos das mudanças climáticas é a promoção de um ambiente mais saudável em mobilidade, segurança e saúde e a qualidade de vida em geral. É preciso enxergar muito além da questão climática.

O sr. poderia nos dar um exemplo da interligação desses aspectos? 
A Toyota construiu uma moderníssima fábrica na Turquia, que resistiu aos terremotos que afetaram a região. Contudo, nos dias seguintes à catástrofe, a unidade ficou paralisada porque a infraestrutura ao seu redor não era adequada. Não havia energia ou água.

O sr. incluiria o caso da Coca-Cola, que foi obrigada a fechar uma fábrica na Índia, acusada de consumo excessivo de água? 
Exatamente isso. Não há como produzir refrigerantes sem água.

O que a Fundação vem fazendo para conciliar a agenda política dos prefeitos com as prioridades de longo prazo de uma cidade?
Considero legítimo que os prefeitos e os políticos em geral pensem em sua reeleição. Isso vale para o Brasil e todos os demais países nos quais trabalhamos. Não impomos políticas públicas. O que fazemos é ajudar a construir uma agenda para o futuro, levando em conta estratégias capazes de encarar os desafios em diversos campos.

Questões como insegurança, tensões raciais e desemprego são comuns em cidades de países ricos e emergentes como o Brasil. Esses aspectos são contemplados nos estudos?
Sem dúvida. A qualidade de vida em uma comunidade é importante para as pessoas e também para os negócios. Elevadas taxas de criminalidade e tensões raciais formam um ambiente desfavorável ao desenvolvimento econômico.

Quais cidades já se mostram aptas a conviver com os efeitos decorrentes do clima e do crescimento desordenado?
Entre as 33 cidades com as quais já estamos trabalhando, acredito que São Francisco, na Califórnia, e Cingapura, na Ásia, estão mostrando bons resultados. São Francisco não se prepara apenas para os possíveis efeitos de um grande terremoto, mas cuida de outros setores capazes de tornar a vida de seus habitantes melhor.

Porto Alegre e Rio de Janeiro acabam de ser incluídas numa segunda rodada de investimento da Fundação. Por que São Paulo ainda não foi contemplada? 
Para um total de 100 vagas já recebemos cerca de mil inscrições. Mas São Paulo está em nosso radar. Temos atuado com muita proximidade da administração municipal e já fizemos algumas reuniões com o prefeito Fernando Haddad, que tem interesse em aderir ao programa.

Por que a Fundação Rockefeller decidiu lançar esse programa? 
Ao completarmos 100 anos de existência, em 2013, pensamos em iniciativas capazes de deixar um legado para os próximos 100 anos.

E no que mais está concentrada a atenção da fundação? 
Temos outro projeto de grande porte na Índia, cuja ambição é levar eletricidade, produzida de fontes renováveis, a cerca de 100 vilas.

O sr. já esteve no Brasil? 
Inúmeras vezes. A última delas ocorreu na primeira quinzena deste mês, quando visitei o Rio de Janeiro. Nosso modelo de atuação prevê uma assessoria constante e uma interação estreita com as autoridades das cidades incluídas no programa.