22/08/2012 - 21:00
O Brasil tem sido pródigo em gerar, simultaneamente, boas e más notícias. Uma informação positiva, por exemplo, é a redução da mortalidade infantil, que caiu 46% entre 2001 e 2010, segundo o IBGE. Em compensação, a educação continua evoluindo a passos de formiga, como mostrou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), divulgado na quarta-feira 15. Os alunos continuam aprendendo mal matérias fundamentais, como português e matemática, e o ensino médio, em escolas públicas e privadas, parou no tempo. Essa mesma dicotomia se repete em várias frentes. Na iniciativa privada, por exemplo, subiram os salários, que garantem o virtuoso ciclo de emprego e renda, que se reflete num PIB mais robusto do que há dez anos.
Porém, a produtividade industrial continua abaixo de zero, pela falta de investimento em inovação. O que se pode fazer, então, a respeito desses dois extremos, que geram uma eterna gangorra no sentimento geral da sociedade? Decidir o que o Brasil quer ser de verdade “quando crescer”. Crescimento, nesse caso, precisa incluir medidas mais ambiciosas, e não apenas um PIB maior que o de outros países. O fato de ter se tornado a sexta economia é memorável, mas nem de longe esse resultado nos coloca à altura de uma nação sadia. Mais do que estabelecer metas e métricas para mensurar a riqueza nacional, é necessário acordar para uma realidade que já mudou e muita gente ainda não percebeu. É preciso livrar-se do vício de viver do passado e comprometer-se com a transição para um modelo mais arrojado.
No sentido econômico, o Brasil é um país de viciados. Investidores que ainda não entenderam que vivemos um ciclo de juros baixos e estão em busca de aplicações de retornos seguros e, de preferência, sem esforço. Empresários dependentes de políticas comerciais protecionistas, que ainda esperam fechar a economia para, talvez, começar a investir. Cidadãos acomodados que aguardam mudanças caindo do céu e não se mobilizam para cobrar o que a própria democracia lhes garante. Políticos viciados em gastar seu tempo e o dinheiro público com questões que nada têm a ver com o coletivo. Um Estado viciado em esperar que decisões tomem vida própria, e que avança em velocidade mínima, embora as necessidades de evolução, como no caso da educação, sejam urgentes.
O quadro parece desanimador e muita gente acredita que o Brasil não tem remédio. Preferem, assim, propagar clichês sobre um “país que não tem mais jeito”, de um brasileiro “que busca tirar vantagens em tudo”, e outras sandices do gênero. Dá até preguiça de ouvi-las. Difícil mesmo é colocar a mão na massa e ajudar a consertar defeitos. Sim, o País não é perfeito, e precisa realizar muitas lições de casa. Diria que estamos no meio do caminho para avançar com mais qualidade. Sepultar o discurso pessimista, por exemplo, pode ser um passo importante para começar a mudar de atitude. “Está tudo aqui dentro, é só saber juntar”, disse, anos atrás, um estudioso da inovação brasileira. Por que não apostar nisso? Não se trata de ser ingênuo, ufanista ou seguir a cartilha Poliana. É enxergar a realidade, aperfeiçoando o que já é bom, corrigindo o que é ruim.