Um caldo de culturas e diversidade de plantas e animais se esconde sob as copas das árvores da Floresta Amazônica. A vegetação dos 5 mil Km2 que ela ocupa em território brasileiro é tão densa que pode enganar. Há quem olhe para o mapa do Brasil e enxergue na região e apenas uma imensa mancha verde. Já foi assim. Até o desmatamento começar a tingir o que já foi mata fechada com os tons de marrom dos pastos para criação gado. Ou com o cinza da fumaça das queimadas. Em muitos pontos, a paleta de cores amazônica tem ainda manchas vermelhas do sangue derramado em conflitos de terra, pelo massacre de indígenas e pelas disputas entre madeireiras, garimpeiros e traficantes que se apossam de uma terra onde a lei tem pouco ou nenhum valor.

Seja por ganância, estupidez ou burrice, a floresta mais diversa do mundo está se convertendo em savana. E isso ocorre justamente quando aquele verde hoje um tanto esmaecido se firma como a cor do novo dinheiro no mundo. A cor da bioeconomia, que o Brasil queima, destrói e desperdiça. Por isso Dia da Amazônia não pode se limitar a 5 de setembro. É preciso preservar a floresta nos 365 dias do ano.

A Amazônia consumida por fogo e garimpo vista do alto

A degradação da Amazônia nos anos 90 e início dos anos 2000 foi agressiva. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no intervalo de 1994 a 2005, a média de desmatamento foi de quase 20 mil Km2. A situação se agravava a tal ponto que foi preciso criar algum artifício para que a preservação da floresta entrasse na pauta da sociedade civil de maneira mais organizada. Foi quando em 2007, ano em que a ambientalista Marina Silva comandava o Ministério do Meio Ambiente no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da República sancionou a Lei nº 11.621 estabelecendo o dia 5 de setembro como o Dia da Amazônia. Pequeno parêntese: a data foi escolhida por ter sido o dia que D. Pedro II criou a província do Amazonas no ano de 1850.

A ação política para preservar a mata não parou na canetada. Ações para o combate ao desmatamento foram aplicadas com mais rigor, levando a média do desmatamento cair para 7,1 mil Km2 nos 11 anos seguintes. Neste período, o soft power brasileiro – expressão usada na teoria das relações internacionais para descrever a habilidade de um corpo político – nas questões ambientais, cresceu. Ponto de destaque foi a escolha do Brasil como sede do maior evento sobre a agenda realizado até então pelas Nações Unidas, a Conferência Rio+20 em 2012, que reuniu cerca de 190 chefes de Estados e representantes na cidade do Rio de Janeiro. Até que…

Até que em 2018, o desmanche das políticas ambientais brasileiras foi iniciado. A promessa de campanha do então recém-eleito presidente Jair Bolsonaro foi aplicada. A presidência da Funai deixou de ser ocupada por especialistas para ser entregue a pessoas com nenhuma ligação técnica ou, ao menos, empática com a proteção dos povos indígenas. O ICMBio foi entregue aos militares. O papel do Ibama como órgão fiscalizado, diminuído. O resultado foi o aumento de desmatamento: 5.375 Km2 (2018); 6.200 Km2 (2019); 8.096 Km2 (2020); 10.362 Km2 (2021). Imagens de garimpeiros ilegais nos rios amazonenses ganharam o mundo.

Por isso, mais que nunca, o Dia da Amazônia se faz necessário. Não como mais uma data no calendário. É preciso encarar o 5 de setembro como uma oportunidade para que a sociedade civil se una para cobrar o atual governo e aos postulantes ao cargo de presidente da República que a Amazônia seja tratada como uma riqueza que pertence ao povo brasileiro e como um grande repositório dos recursos da economia do futuro, a bioeconomia.