11/01/2002 - 8:00
Os sócios do Investidor Profissional, administrador de fundos com sede no Rio de Janeiro, criaram uma espécie de bíblia para orientá-los na gestão de seus negócios. Um de seus mandamentos diz: ?Somos conservadores, mas não convencionais?. Há diversos exemplos. Em início de 2000, quando a Nasdaq começava a estrebuchar, eles lançaram um fundo de private equity para empresas de internet. Agora, no momento em que a economia americana tira o pé do acelerador, eles preparam-se para colocar no mercado um fundo para investidores brasileiros interessados em comprar ações na Bolsa de Nova York. Sua meta é captar US$ 15 milhões e atingir rentabilidade de 15% ao ano em dólar. Trata-se do primeiro produto desse tipo oferecido por uma administradora de fundos brasileira. ?A conjuntura econômica é apenas um dos dados que analisamos. Ela não é determinante?, diz Roberto Vinháes, que, em conjunto com Christiano Fonseca Filho, fundou a empresa em 1988. ?Gastamos zero de tempo prevendo o futuro.?
Um investidor pode sentir calafrios ao ouvir essa opinião. Mas é bom analisar os resultados dessa estratégia antes de fazer julgamentos. O IP Participações, o mais antigo fundo administrado por esses sujeitos, rendeu desde seu nascimento, em fevereiro de 1993, 576% em dólar. Nenhum concorrente o superou em rentabilidade no mesmo período, segundo a Anbid. O segundo colocado ficou com 445%. Em média, o Investidor Profissional tem faturado, entre taxa de administração e de performance, cerca de R$ 20 milhões por ano. Trata-se de uma fortuna para uma estrutura reduzida, formada por 27 funcionários, sendo oito deles sócios da companhia. São eles os responsáveis pela gestão de um patrimônio total de R$ 350 milhões.
Messianismo. Desde a fundação da empresa, Vinháes e sua turma definiram um foco de atuação, que respeitam de forma quase messiânica ? e essa é a receita do sucesso, segundo eles. As chamadas ações ?blue chips?, como Petrobras, não fazem parte de seu portfólio. O foco é inteiramente concentrado em empresas pequenas e médias ou aquelas chamadas de segunda linha, a exemplo da Livraria e Editora Saraiva, Coteminas, Fosfértil, entre outras. O Investidor Profissional também dá preferência a companhias de alguns setores específicos, como varejo, educação, entretenimento e serviços. ?Nós mergulhamos nas empresas e nos setores para conhecê-los profundamente?, diz Maurício Bittencourt, um dos sócios. Antes de comprar 20% do capital da Saraiva, por exemplo, eles embarcaram para Nova York para conhecer de perto empresas como a Barnes & Noble. ?Estamos mais preocupados com o preço das ações e seu potencial do que com as preferências do mercado?, diz Vinháes. ?O mercado é um ser maníaco-depressivo que quer vender tudo ou comprar tudo.? Vinháes lembra de um caso: no auge do prestígio da Amazon Books, a livraria virtual, os sócios decidiram comprar ações da Borders, uma rede da economia real. Os papéis, desprezados pelos investidores, estavam cotados a US$ 9. Hoje, valem US$ 22. ?Começamos a vender quando eles atingiram US$ 15?, conta Fonseca.
Do próprio bolso. Dessa experiência, aliás, surgiu a idéia de criação do IP Fund Value Global. É outro dos mandamentos do Investidor Profissional. Antes de criar um novo fundo, os sócios fazem testes com seu próprio dinheiro. Outra regra: os acionistas devem contribuir com cerca de 5% dos recursos de cada fundo. Ou seja, dos R$ 350 milhões de patrimônio total, R$ 17,5 milhões saíram de suas contas bancárias. ?Só ganhamos dinheiro quando os clientes ganham? diz Vinháes. ?Se precisar, sangramos junto com eles.? Por isso, eles fazem questão de participar do conselho de administração de cinco empresas, nas quais têm parcelas acionárias significativas. É o caso da Saraiva e da Coteminas, onde tornaram-se defensores dos acionistas minoritários. Na Saraiva, por exemplo, garantiram direitos que nem mesmo a nova Lei das S.A. exige.
Com a experiência e credibilidade acumuladas há mais de 15 anos, o Investidor Profissional poderiam ter uma carteira de recursos mais recheada, acreditam alguns executivos de grandes bancos. Os sócios discordam. ?Somos uma boutique de investimentos?, diz o sócio Alberto Güth. ?Nossa vocação é ser um gestor de nicho com produtos diferenciados para clientes diferenciados.?