27/10/2004 - 7:00
Se o astro de Hollywood Humphrey Bogart estivesse vivo, ficaria atento à iniciativa da Philip Morris. A multinacional está à procura do cigarro seguro ? se é que isso é possível. Estrela do clássico Casablanca, o ator, que morreu de câncer no esôfago aos 57 anos, apareceu fumando em praticamente todas as cenas de seus filmes, envolto em uma cortina de fumaça tão charmosa quanto perigosa. O que a Philip Morris busca é exatamente o fim dessa fumaça. ?Em dois anos, deveremos colocar em teste um produto que diminui os males do fumo?, afirmou à DINHEIRO, de Lausanne (Suíça), David Davies, vice-presidente sênior de Assuntos Corporativos da Philip Morris International.
O novo cigarro vai se chamar Accord, e quem já viu garante que ele traz um processo engenhoso de queima, bem diferente do que existe hoje. Para fumá-lo, o consumidor deverá colocá-lo dentro de um pequeno aparelho do tamanho de um controle remoto e que funciona a bateria. Esse equipamento controlará a combustão do cigarro. Ou seja: em vez de queimar, o tabaco será apenas aquecido. Sem fogo, teoricamente não haveria a liberação das mais de 4 mil substâncias tóxicas e cancerígenas produzidas pela combustão do cigarro. Detalhe: sem cinzas e nem fumaça. A empresa não informa se o aparelho, já testado nos Estados Unidos e no Japão, virá junto com cada maço ou vendido separadamente. Especula-se que o Accord custará 50% a mais que os cigarros convencionais. E a máquina, cerca de US$ 50. Mas a Philip Morris não confirma essas informações. ?Não temos ainda o valor?, afirma o vice-presidente.
O fato é que já há um punhado de gente contra a idéia. ?Não existe cigarro seguro?, disparou recentemente Vera Costa e Silva, médica brasileira da Organização Mundial de Saúde (OMS). Além de combater os céticos, o que a Philip Morris tenta é expandir o mercado do fumo, que, se não diminui, também não dá sinais de crescimento. O atual número de fumantes no mundo ? 1 bilhão de pessoas ? deverá ser o mesmo em 50 anos. A empresa fatura US$ 51 bilhões ao ano (somando as receitas da Philip Morris International e da Philip Morris USA, que só atua nos Estados Unidos). Dinheiro para continuar as pesquisas que um dia venham a contradizer a máxima médica de que ?cigarro bom é cigarro fechado na embalagem?, portanto, não vai faltar. Enquanto isso, as mortes relacionadas ao fumo vão aumentando. Foram 3 milhões em 1990, 4,9 milhões em 2003 e serão 10 milhões em 2030, prevê a OMS.