12/11/2017 - 8:34
A ialorixá Vivian Tybara teve seu terreiro, na Baixada Fluminense, destruído “em nome de Jesus” em outubro. “É uma guerra santa desnecessária”, desabafa. “Sou nascida e criada no candomblé e conheço o histórico de perseguições”, diz.
Desde que foi criado, no início de agosto, o disque-denúncia contra intolerância religiosa da Secretaria Estadual de Direitos Humanos do Rio recebeu 44 informes – 40 de ataques violentos contra terreiros de umbanda e candomblé. Na maior parte das agressões, os responsáveis são ligados ao tráfico e a correntes evangélicas fundamentalistas, que usam a religião para propagar discursos de ódio. Segundo especialistas, a inusitada aliança entre crime e religião tem sido celebrada há muito tempo dentro de presídios.
Segundo o secretário de Direitos Humanos, Átila Alexandre Nunes, o nome de Jesus é usado para fechar terreiros por traficantes fundamentalistas.” Só na última semana, foram quatro no Colégio (bairro da zona norte) e os religiosos, proibidos de usar guias e vestir roupas brancas. A Polícia Civil, que investiga os atentados, já identificou suspeitos ligados ao tráfico. Muitos teriam se convertido na prisão. “É inegável a ascensão política do discurso de intolerância religiosa e a disseminação dos pensamentos de ódio”, diz o babalaô Ivanir dos Santos, da Comissão Contra a Intolerância Religiosa do Rio (CCIR). “Mas também temos uma inércia muito grande do Estado diante desse fenômeno, do Legislativo, do Judiciário.”
Também membro da CCIR, o pastor Marcos Amaral lembra a diversidade de posições na comunidade evangélica. “Não podemos dizer que os neopentecostais, em geral, nutrem a intolerância”, afirma Amaral.
Carmen Flores, a ialorixá Carmen de Oxum, de 66 anos, deixou o País após ser vítima de agressão, filmada e compartilhada nas redes sociais. No vídeo, ela é humilhada e forçada a quebrar imagens do próprio terreiro. Ela havia sido surpreendida por sete homens armados ao voltar das compras. “Fizeram a destruição completa da minha casa: disseram que se eu continuasse lá, matariam todos”, conta Carmen, por telefone, da Áustria. A mãe de santo não registrou denúncia. “Estou com medo de voltar ao Brasil.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.