O decreto anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de sobretaxar as importações de aço e alumínio de todos os países, com a possibilidade de excluir o Canadá e o México, revela, segundo ex-secretário de Comércio Exterior e sócio da Barral M Jorge Consultores, Welber Barral, uma visão muito simplória do comércio internacional. A decisão esvazia, segundo ele, o sistema multilateral de comércio. “Há risco de perda de eficácia da Organização Mundial do Comércio (OMC)”. A seguir trechos da entrevista.

Como o sr. avalia a medida?

A lógica do comércio internacional desde 1947, quando o Gatt foi criado, o precursor da OMC, é que as concessões feitas por produtos acabam se estendendo a todos os membros, na época do Gatt, e hoje da OMC. Trump está querendo levar a negociação produto a produto bilateralmente, o que é inadministrável. É uma visão muito simplória do comércio internacional.

Por quê?

Em primeiro lugar, você não consegue negociar bilateralmente todos os produtos. Em segundo lugar, isso viola um dos pilares da OMC no qual não é permitido fazer concessão para um país. Em terceiro lugar, Trump cria um grau de instabilidade porque diz que não só relações comerciais serão levadas em conta, apontando questões militares, questões relacionadas a tratamento justo com os EUA. Há fatores que não se sabe como serão considerados. Muito provavelmente grandes parceiros comerciais vão retaliar, caso da Europa e da China.

Como fica a OMC?

Com essa decisão, Trump esvazia o sistema multilateral de comércio. Há um risco de perda de eficácia da OMC. Ela fica fragilizada porque, bem ou mal, os EUA são o principal ator do comércio global.

Como enfrentar esse cenário?

Imediatamente é fazer lobby nos EUA para tentar mitigar os efeitos. Sendo realista, é o que dá para fazer agora. Estamos numa fase em que todo mundo está preocupado em tirar as suas exportações. O que eles colocaram no anúncio é que a sobretaxa de 25% sobre o aço pode ser revista.

O risco aumentou no comércio internacional após essa medida?

Sim, muito. Seguramente vai haver novos capítulos: retaliação, contra retaliação, negociações. Trump vai ter de aprender que o comércio internacional é muito mais complicado do que ele imagina.

E o Brasil?

O Brasil tem apenas 1% do comércio mundial, não é um ator importante. Provavelmente, vai observar o comportamento dos principais atores. Eventualmente, vai reclamar na OMC, se tiver fundamento para isso.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.