12/07/2025 - 13:00
Após meses operando sem direito ao uso da marca que dava fama e em briga judicial contra uma ordem de despejo, o Eataly informou que a assembleia de credores da empresa aprovou, por unanimidade entre todas as classes de credores, o Plano de Recuperação Judicial da empresa. Mas nada será mais como antes.
Após 10 anos, a empresa desocupará o suntuoso imóvel da Avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo, onde operava seu mercado gastronômico, e vai passar a funcionar como uma dark kitchen, ou seja, apenas para delivery, se atendimento presencial. Será possível pedir refeições e itens de empório via aplicativos.
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“O objetivo é assegurar a continuidade da oferta de seus produtos aos milhares de clientes fidelizados ao longo de mais de uma década de atuação, por meio dos principais aplicativos de entrega do país”, disse a empresa, em nota, acrescentando que a aprovação do plano de recuperação marca “um passo decisivo no processo de reestruturação da companhia, permitindo sua transição para um novo modelo de negócios, mais enxuto e eficiente”.
À IstoÉ Dinheiro, a empresa disse que agora vai operar sob o nome JK Food Market. Apesar de o novo nome fazer menção ao endereço que abriga o Eataly há 10 anos, a nova operação ficará ativa no local no máximo por mais 30 dias, prazo previsto para a desocupação do imóvel, afirmou a empresa, sem informar onde será sua nova sede.
Após esse período, a JK Food Market seguirá atendendo exclusivamente por canais digitais, via plataformas iFood e 99Food, até a inauguração do novo espaço físico. A previsão é que isso ocorra em até um ano. “O novo local de operação já está em fase avançada de negociação”, garante a empresa.
Entenda a situação do ex-Eataly
Em fevereiro, o Eataly no Brasil perdeu uma disputa judicial com a franqueadora italiana e ficou proibido de usar a marca Eataly no país desde então. O processo seguiu em segredo de Justiça e, na época, a gestão brasileira disse que a decisão sobre a perda da marca no país foi dada “em um processo arbitral sigiloso” e que não era definitiva.
A perda do nome foi apenas mais um episódio envolvendo a franquia no Brasil. A empresa está em seu terceiro grupo de gestores. Hoje os responsáveis são o fundo Wings e um family office, com a operação liderada pelo CEO Marcos Calazans, que está tendo que lidar com um processo de recuperação judicial iniciado com dívidas somando os R$ 55 milhões. Segundo a empresa, R$ 20 milhões foram quitados e a operação segue cumprindo seus compromissos financeiros.
Um pouco antes de perder o nome, o Eataly havia conseguido suspender uma ordem de despejo. Foi a segunda vez que a empresa tinha conseguido segurar uma determinação da Justiça para que desocupasse o imóvel em São Paulo.
Segundo a dono do imóvel, a Caoa Patrimonial, o Eataly não estava cumprido com o pagamento do aluguel do imóvel, bem como com a manutenção do prédio e o pagamento de IPTU e contas de consumo. Na decisão pelo despejo, a varejista tinha até o dia 28 de fevereiro para desocupar o prédio.
O primeiro pedido de despejo feito pela proprietária foi em agosto de 2024. A última decisão, até então, tinha como prazo o dia 21 de janeiro deste ano para a saída do local, quando o Eataly então conseguiu a suspensão do pedido argumentando com o processo de recuperação judicial.
Eataly no Brasil
A franquia foi trazida para o Brasil pelo Grupo St Marche, dono da rede de supermercado de mesmo nome e pelo Empório Santa Maria, sob a gestão de Bernardo Ouro Preto e Victor Leal. A história é que o próprio fundador do Eataly, Oscar Farinetti, e o então CEO da marca internacional, Luca Baffigo, teriam escolhido a dupla, com direito a viagem até o Brasil para acompanhar de perto os preparos da operação tropical, a primeira na América Latina. O investimento foi 60% de sócios estrangeiros – entre americanos e italianos – e 40% dos brasileiros.
A marca italiana que tem 40 unidades espalhadas em mais de uma dezena de países pelo mundo, entre Ásia, Oriente Médio, Europa e Américas.
Quando chegou à capital paulista em 2015, carregava o peso da fama de suas pares, especialmente as unidades de Roma e Nova York, já conhecidas pelos brasileiros de maior poder aquisitivo, público-alvo da rede por aqui. O “frisson” (adjetivo para os mais velhos) ou o “hype” (para os mais novos) era claro, com o ambiente sempre muito movimentado e, como qualquer sucesso paulistano, com filas.
Na época, destacava-se que seria a 29ª loja da marca no mundo, com investimentos de R$ 40 milhões, mais de sete mil produtos, boa parte importados e de alto padrão, e mais de 500 funcionários. E ainda a projeção de expansão da marca para outras cidades do país, que nunca se concretizou.
O Eataly ficou sob o comando do St Marche até 2022, quando passou para o controle da operadora multimarcas SouthRock, que carregava a expertise do varejo alimentar, sendo a responsável por Starbucks, Subway e TGI no Brasil, além da BAR (Brazil Airport Restaurants), focada em alimentação em aeroportos.
Contudo, em 2023, a Southrock entrou em recuperação judicial, alegando dívidas de R$ 1,8 bilhão. O Eataly não foi incluído no processo de recuperação da SouthRock, e pouco depois passou para a gestão da Wings, que agora lida com a recuperação judicial.