Não existe empresa sem nome ou marca. Mas é essa a situação que vive hoje o Eataly no Brasil, que perdeu uma disputa judicial com a franqueadora italiana e agora não pode mais usar a marca Eataly no país. O processo segue em segredo de Justiça. A gestão brasileira disse que a decisão sobre a perda da marca no país foi dada “em um processo arbitral sigiloso” e que não é definitiva.

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Procurada por IstoÉ Dinheiro para detalhar sobre a perda da marca, a empresa no Brasil diz estar “em um momento de arbitragem” e que “não poderem se posicionar além da nota oficial” (ver abaixo).

Cristina Souza, CEO da Gouvêa Foodservice, diz que não é possível saber o que levou a franqueadora a retirar o nome da franqueada brasileira, mas certamente deve envolver algum descumprimento de contrato, que pode ser desde o processo de recuperação judicial em que a empresa está envolvida ou até mesmo falta de padronização da operação.

“Todo mundo que está no sistema de franquias, tem que cumprir normas, regras. O franqueador cobra. Não é uma grande surpresa [tirar o nome] se não cumprir regras. Essas regras passam, por exemplo, por ter x% de produtos importados, um mix mínimo, regras estabelecidas que, mesmo com troca de comando, precisam ser respeitada”.

Sem nome, o complexo dedicado à gastronomia italiana (massas, molhos, café, trattoria, pizzaria e escola de culinária) também ficou sem site e redes sociais ativos.

       

Sem uma marca a ostentar, restou ao imponente espaço em uma das áreas mais nobre da capital paulista – a Avenida Juscelino Kubitschek – tirar seu letreiro e tentar tapar o que restava do nome no ambiente interno. Mas uma volta pelo local mostra que não é tão simples de desfazer da presença da marca – física e simbolicamente.

         Marca Eataly tapada com fita branca em placas

O nome ‘Eataly’ ainda se vê nos detalhes. A presença da marca ainda está nos guardanapos e no uniforme dos funcionários. Etiquetas, menus e até a sacola de compras também ainda carregam a marca. A nota fiscal exibe “Eataly Brasil”.

Fachada do Eataly em São Paulo em imagem do Google Street View antes da perda do direito à marca (Crédito:reprodução Google Street View)

A reportagem de IstoÉ Dinheiro visitou o local na quarta-feira, 12. Ao chegar por volta das 11 horas da manhã, houve até a dúvida se estava aberto. Uma unidade do café illy recebia alguns consumidores. Mas os antes movimentados corredores do empório estavam vazios. Entretanto, as prateleiras ainda abastecidas – sem rupturas – com algumas ofertas de produtos importados, com maior predominância de massas, molhos e vinhos. E sem anúncios de promoções.

Na parte de chocolates, por exemplo, era mais forte a presença do “Brownie do Luiz”, marca carioca do doce americano, do que de marcas estrangeiras. Padaria, sorveteria e confeitaria também operavam, mas com menos sortimento e pujança que no passado. Assim como a parte de massas frescas e a escola de gastronomia.

O movimento mais forte foi mesmo nos restaurantes, incluindo o mais novo Nice to Meat, no espaço antes ocupado pelo Giro, que hoje está em outro endereço.

Mais próximo do meio-dia o número de clientes foi aumentando, seguindo o padrão de um local rodeado por escritórios. O que fez o silêncio local acompanhado pela música ambiente passar para o burburinho típico de uma área de alimentação. Por volta de 13 horas, o espaço de alimentação já estava bem ocupado e começou a esvaziar novamente pouco após as 14h.

A impressão que fica é que não se percebe ser um negócio em crise, mas também não exibe mais o brilho do passado.

Além da batalha pela marca, a empresa também está tentando não perder o local. A proprietária do imóvel, a Caoa Patrimonial, entrou com uma ação de despejo contra a franqueada brasileira, que era para ter ocorrido em 21 de janeiro. Contudo, os gestores conseguiram evitar a saída forçada.

A empresa está em recuperação judicial desde o final de 2024, com dívidas declaradas à época de R$ 55 milhões. Segundo informado ao IstoÉ Dinheiro, “R$ 20 milhões foram pagos e o restante está sendo negociado com credores”.

Veja a íntegra da nota da Eataly no Brasil:

“O Eataly Brasil informa que a questão relacionada ao direito de uso da marca no país está em processo de arbitragem. O caso permanece sob sigilo, sem decisão definitiva até o momento, e será analisado pelas instâncias competentes. A empresa reafirma seu compromisso em cumprir integralmente a legislação vigente e respeitar as determinações judiciais e arbitrais aplicáveis.

Além disso, o Eataly Brasil solicitou um pedido de Recuperação Judicial com o propósito de viabilizar a continuidade do processo de mediação com credores, buscando a melhor solução para créditos em aberto. Essa decisão reflete o compromisso da empresa com uma negociação estruturada, que proporcione um acordo seguro, ágil e equilibrado para todas as partes envolvidas.

É importante destacar que esse processo não impacta as operações da empresa, nem interfere no cumprimento de obrigações contratuais, fluxos regulares de pagamento ou nas condições previamente acordadas com parceiros e fornecedores.

O Eataly Brasil mantém, ainda, seu compromisso integral com seus colaboradores e com a excelência que caracteriza a experiência oferecida aos clientes. A empresa segue atuando com responsabilidade e consistência, com foco na sustentabilidade e no crescimento do negócio, reafirmando sua dedicação a todos os seus públicos.”

(Com informações de Estadão Conteúdo)