11/02/2011 - 7:00
O executivo Alexander Cutler, presidente mundial da americana Eaton, fabricante de autopeças, dona de receitas globais de US$ 13,7 bilhões em 2010, fez um périplo pelo Brasil há duas semanas.
Nos cinco dias em que permaneceu no País, visitou as fábricas da subsidiária e manteve contatos com executivos da Petrobras, da Embraer e do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Vamos investir os recursos necessários para crescer no Brasil”
Alexander Cutler, presidente da Eaton
A lista de contatos não deixa de ser intrigante, principalmente para o chefão de uma empresa que se transformou em sinônimo de autopeças no mercado nacional. Afinal, por que corporações fora do setor automotivo, nicho tradicional de atuação da companhia, estariam na mira da Eaton?
É que, apesar de ter construído seu nome como a maior fabricante independente de caixas de câmbio e transmissões, a companhia possui uma atuação destacada lá fora também em outros dois nichos: componentes hidráulicos e elétricos, representados pela Eaton Hydraulics e Eaton Electrical, respectivamente.
Equipamentos da Eaton, por exemplo, foram utilizados no resgate dos mineiros chilenos no final do ano passado. É exatamente nessas divisões que o executivo, mais conhecido como Sandy, espera ver a filial brasileira ampliar sua presença.?A economia brasileira está crescendo e queremos participar do desenvolvimento do País em todos os segmentos?, disse Cutler com exclusividade à DINHEIRO.
Mais que fazer uma declaração de intenções, o executivo veio ao Brasil dar o sinal verde para que a subsidiária desembolse o que for necessário para recuperar o tempo perdido nesses setores.
Por enquanto, ficou acertado que serão investidos US$ 150 milhões nos próximos cinco anos. ?Dinheiro não será problema?, afirmou o CEO da Eaton. ?Serão gastos os recursos necessários para desenvolver essas divisões.?
No País desde 1960, a Eaton pavimentou seu caminho no setor de autopeças baseada no relacionamento de longa data que mantém com as montadoras de veículos em outros mercados.
O crescimento da venda de automóveis levou a reboque as produtoras de componentes. Dados preliminares do Sindicato Nacional das Indústrias de Autopeças indicam que o faturamento do setor cresceu 22,7% em 2010, saltando de R$ 65,01 bilhões, em 2009, para R$ 79,78 bilhões, no ano passado.
É exatamente a força da gigante americana nessa área, segundo analistas, que pode servir de ?cartão de visita? nos novos mercados. ?A Eaton é uma referência na indústria automotiva?, diz Luiz Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos. ?Isso deve ajudar no trabalho de diversificação de seu portfólio.?
No ano passado, cerca de 70% da receita de US$ 1,06 bilhão obtida na América Latina foi conquistado com a venda de autopeças. A caminhada da Eaton nos setores elétrico e hidráulico, porém, pode não ser tão tranquila quanto Cutler espera. É que a empresa terá de disputar espaço com potências como Siemens, ABB e Alstom.
Essas companhias, com longa tradição nessas áreas, têm como principal característica o fechamento de contratos de fornecimento por prazos longos. Para ampliar a competitividade da Eaton, Cutler não descarta a aquisição de empresas de menor porte, como fez nos últimos três anos na Europa e na Ásia. Nessas transações gastou US$ 3 bilhões.
O dinheiro ajudou a ampliar o raio de atuação das divisões elétrica e hidráulica. ?Nosso portfólio era composto por equipamentos fabricados com base nas normas técnicas dos Estados Unidos e da Europa?, afirma. ?Agora, dispomos de componentes que atendem o padrão do Brasil e dos demais países da América Latina.?
Segundo Cutler, os US$ 150 milhões previstos para serem aplicados no Brasil, onde emprega 4,5 mil funcionários, serão usados na modernização e na expansão das sete unidades situadas nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
A ideia é nacionalizar equipamentos em áreas em que a Eaton possa fazer a diferença. Uma delas é a de geração de energia eólica. O mecanismo que funciona como um ?freio? para as pás de cata-ventos leva a assinatura da companhia. Esse segmento deve faturar R$ 2,4 bilhões em 2014 no Brasil.
Cutler gosta de relembrar a entrada da Eaton na China para justificar que, apesar de chegar depois de grandes rivais no mercado, conseguiu recuperar o tempo perdido. No país asiático, a companhia começou a operar em 1988, oito anos depois de seus principais concorrentes.
Atualmente, a Eaton desponta como um dos principais competidores desse mercado, no qual já obtém um faturamento anual de US$ 1,1 bilhão. No Brasil, Cutler acredita que há ainda muitas oportunidades, mesmo para quem chega com quase 50 anos de atraso em relação às principais rivais nas áreas de equipamentos elétricos e hidráulicos.