Uma quer eliminar a laranja podre que afeta as suas finanças. A outra, cujos números são excelentes, pretende vender o seu controle em um momento no qual as ações estão valorizadas. É este o cenário de dois dos principais templos do luxo nos Estados Unidos. A Saks e Neiman Marcus atravessam momentos de ebulição. Trata-se de um movimento no coração do consumo de classe A que pode definir quem, de fato, dominará este mercado. As lojas começaram a se mover depois que uma gigante do consumo foi criada no fim de fevereiro. A Federated Department Store, dona de ícones como a Macy?s e Bloomingdales, comprou a May Department Store, dona da Lord & Taylor?s e da Marshall Field?s, por US$ 11 bilhões.

Criou-se, então, uma gigante com um faturamento de US$ 30 bilhões por ano e uma cadeia de mil lojas. Além disso, os compradores de produtos refinados estão migrando para lojas menores. ?As pessoas estão procurando atendimento mais personalizado?, diz Ricardo Minelli, diretor da Ricardo Minelli e Emanuel Bernini consultores. Esses fatores, de certa forma, mudaram radicalmente a geografia do varejo nos EUA. ?As grandes lojas estão tendo que se readaptar a essa nova realidade?, diz Carlos Ferreirinha, consultor especializado em luxo. A Saks se vê no meio de um dilema. Atualmente, a empresa controla uma cadeia de lojas regionais com 241 pontos-de-venda e também comanda o grupo de lojas Saks Fifth Avenue,
uma das grandes mecas do bem viver. Uma recente matéria publicada no jornal The New York Times revelou que os executivos pretendem vender as lojas regionais e ficar apenas com a Saks Fifth Avenue, a menina dos
olhos. Mas o possível comprador só assinaria se a cadeia Fifth Avenue fosse incluída no negócio, uma vez que seu faturamento atinge US$ 2,7 bilhões por ano e as vendas cresceram 7,1% em 2004.

Um estudo realizado pelo instituto americano US Census Bureau mostra que a participação do varejo no comércio americano caiu de 15,5% para 9% nos últimos dez anos. Por isso, as lojas estudam outras alternativas. A Neiman Marcus, por exemplo, apresenta ótimos números financeiros. Mas não se sabe, porém, até quando. De olho nesse movimento, ela contratou o banco Goldman Sachs & Co. para estudar as melhores oportunidades de venda. Interessados não faltam. Na semana passada, a empresa de private equity Warburg Pincus e o Texas Pacific Group ofereceram cerca de US$ 4,9 bilhões pela rede. Outro candidato ao negócio é o Louis Vuitton Moët Hennessy ? o LVMH. Seria, portanto, mais uma tacada do grande conglomerado de luxo para estar em todas as áreas: da fabricação de roupas com grife à venda direta ao consumidor. A entrada do grupo francês promete acirrar a briga. E, neste campo, os franceses gostam realmente de esgrimir suas armas. É o que ocorre, agora, nas Galerias Laffayette, que atualmente vive uma disputa interna pelo controle entre os Meyer e os Moulin, as famílias herdeiras da loja parisiense. Como costuma acontecer neste nicho de mercado, onde a compra emocional é a que impera, os executivos terão de exibir nervos de aço para suportar as pressões.