22/08/2025 - 16:47
PIB recuou 0,3% em relação ao trimestre anterior – tombo maior do que o esperado inicialmente pelo governo, de 0,1%. Indústria alemã sofre com as tarifas de Donald Trump, que brecam vendas aos EUA.A política tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, teve um efeito mais negativo que o esperado sobre a economia da Alemanha: o Produto Interno Bruto (PIB) do país europeu encolheu 0,3% no segundo trimestre deste ano em relação ao trimestre anterior. Originalmente, o governo esperava que a queda fosse de apenas 0,1%.
No primeiro trimestre de 2025, de janeiro a março, o PIB – soma de todos os bens e serviços produzidos pelo país – ainda havia crescido 0,3%. Analistas, contudo, esperam uma melhora do quadro no segundo semestre, embora a perspectiva para o terceiro trimestre seja de estagnação.
O Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis), responsável pelos dados, listou diversas razões para a retração da economia alemã no período de abril a junho. A principal é o pior desempenho da produção no setor manufatureiro e de construção civil.
Os investimentos brutos em ativos fixos caíram significativamente (1,4%) no segundo trimestre. No caso de equipamentos como máquinas, aparelhos e veículos, a queda foi de 1,9%, enquanto os investimentos em construções recuaram 2,1%.
Além disso, o consumo privado também foi menor que o esperado, por exemplo no setor de gastronomia, e as exportações de bens e serviços encolheram 0,1%.
Para o economista-chefe do banco de investimento público alemão KfW, Dirk Schumacher, a leve queda nas exportações não surpreendeu, já que muitas empresas teriam antecipado suas vendas ao país no primeiro trimestre justamente por temor das tarifas.
A ofensiva tarifária deflagrada por Trump no início de abril, somadas às muitas idas e vindas nas tarifas efetivamente impostas, gerou incerteza global. A União Europeia está sujeita desde 7 de agosto a uma tarifa de 15% sobre quase todos os produtos. As tarifas de Trump afligem principalmente o setor automobilístico e de engenharia mecânica.
“Também o recuo dos investimentos tem a ver com a incerteza no ambiente global”, afirmou Schumacher à agência de notícias AFP.
Expectativa de melhora
Já Sebastian Dullien, diretor de pesquisa do Instituto para Macroeconomia e Pesquisa de Conjuntura da Fundação Hans Böckler, avalia que provavelmente o empresariado estava esperando por novas regras tributárias mais favoráveis, e que entraram em vigor somente em 1º de julho. Por isso, ele conta com uma retomada do crescimento no segundo semestre.
A expectativa de melhora de Dullien também se baseia em pesquisas com o empresariado e em novos investimentos anunciados pelo governo, além de salários mais altos e inflação mais baixa, que devem aquecer o consumo privado.
A previsão oficial é de que a economia alemã cresça 0,3% em 2025.
Outros economistas citados pelo portal alemão Tagesschau afirmam que os maciços investimentos da Alemanha em defesa e infraestrutura só devem se traduzir em um crescimento expressivo em 2026.
A ministra alemã da Economia, Katherina Reiche, defendeu diante dos números reformas urgentes para a flexibilização do horário de trabalho, a contenção de gastos com a folha salarial, a eliminação de barreiras burocráticas e a redução dos preços de energia. “As condições estruturais locais para a economia alemã continuam a brecar a economia”, afirmou.
A economista Veronika Grimm, do Conselho de Economistas Alemães, criticou que reformas importantes estão sendo negligenciadas por falta de consenso entre os social-democratas e conservadores que formam a coalizão de governo do chanceler federal Friedrich Merz. “Isso faz com que não haja dinâmica de crescimento”, afirmou Grimm aos jornais do grupo de mídia Funke.
Apesar dos dados do PIB, a situação fiscal do país melhorou: segundo dados preliminares do Escritório Federal de Estatísticas, o governo ainda gastou nos primeiros seis meses do ano 28,9 bilhões de euros a mais do que arrecadou, mas como a arrecadação cresceu num ritmo mais rápido que os gastos, o déficit encolheu em 19,4 bilhões de euros.
ra (AFP, dpa, ots)