A economia da China cresceu 3% em 2022, um dos níveis mais baixos dos últimos 40 anos, afetada pela pandemia da covid-19 e pela crise no setor imobiliário – conforme dados oficiais divulgados nesta terça-feira (17).

Pequim havia estabelecido uma meta de expansão de 5,5% para o ano passado, inferior ao nível de 2021, quando o Produto Interno Bruto (PIB) do gigante asiático cresceu mais de 8%.

A rígida adesão à estratégia de “covid zero” isolou a China e atingiu a atividade econômica, abalando as cadeias produtivas com repercussões na economia mundial.

No quarto trimestre, a economia chinesa cresceu 2,9% em termos interanuais, abaixo dos 3,9% registrados no ano anterior, informou o Escritório Oficial de Estatística.

A segunda maior economia do mundo enfrentou grandes dificuldades no final de 2022. Em dezembro, suas exportações caíram, devido à queda na demanda global e às duras restrições sanitárias.

Os números desta terça são os piores desde uma contração de 1,6% em 1976, ano da morte de Mao Tsé-Tung, e excluindo-se 2020, depois do surgimento do coronavírus na cidade de Wuhan, no final de 2019.

Kang Yi, do órgão de estatísticas, disse à imprensa que, no ano passado, a China “enfrentou tempestades e águas turbulentas no ambiente internacional”.

O crescimento do PIB superou, no entanto, os 2,7% antecipados, em média, pelos analistas consultados pela AFP.

Os dados do quarto trimestre também superaram as previsões, dando algum otimismo para 2023.

Segundo a mesma agência, a produção industrial chinesa cresceu 1,3% em dezembro, em relação ao ano anterior, enquanto as vendas no varejo recuaram 1,8%.

O investimento em ativos fixos subiu 5,1% no ano passado, e a taxa de desemprego urbano caiu de 5,7%, em novembro, para 5,5%, em dezembro.

“A boa notícia é que agora há sinais de estabilização, já que a política de apoio adotada no final de 2022 se evidencia na relativa resiliência do investimento em infraestrutura e crescimento do crédito”, disse Louise Loo, economista da Oxford Economics, em nota.

– Fim da ‘covid zero’ –

As dificuldades econômicas da China no ano passado impactaram a cadeia de suprimentos global, já afetada pela queda da demanda.

Confinamentos obrigatórios, quarentenas e testes em massa obrigatórios para a covid-19 provocaram o fechamento de fábricas e de negócios em metrópoles como Zhengzhou, sede da maior fábrica de iPhone do mundo.

No início de dezembro, porém, em meio a uma série de protestos por todo o país, Pequim suspendeu abruptamente as restrições sanitárias.

O Banco Mundial projetou que o PIB chinês vai se recuperar em 2023, a 4,3%, um percentual abaixo das expectativas.

Enquanto isso, o país enfrenta uma nova onda no número de casos de covid-19, a qual sobrecarregou seus hospitais e profissionais de saúde.

Problemas no setor imobiliário também afetaram o crescimento. O setor sofre desde 2020, quando a China começou a controlar seu endividamento excessivo e a especulação. Junto com a construção civil, representa mais de 25% do PIB do país.

As vendas de imóveis caíram em várias cidades, e muitas incorporadoras lutam para sobreviver.

O governo parece ter adotado um tom mais conciliador para reanimar esse setor, ao anunciar em novembro medidas para promover seu desenvolvimento “estável e saudável”.

Essas medidas incluem apoio de crédito para empresas endividadas e assistência em empréstimos para compradores de casas.

Jing Liu, economista do HSBC, antecipou que “o caminho para a normalização pode ser acidentado” e advertiu para um “grande revés de curto prazo” seguido por uma forte recuperação.

“A adoção de uma série de medidas para garantir financiamento suficiente para as construtoras e reativar a demanda habitacional ajudará a estabilizar o setor imobiliário”, afirmou.

Já Chaoping Zhu, da JP Morgan Asset Management, observou que, “olhando para o futuro, esperamos ver uma recuperação econômica sustentada em 2023 como resultado da reabertura e das políticas de estímulo”.