Dizem que uma boa forma de virar o ano é mapear o que se pode esperar dele. Alguns fazem listas, outros criam objetivos, tudo na esperança de se preparar para o que está por vir. Para a economia mundial, seis pontos precisam ficar no radar, e todos eles atingem o Brasil. Agora que já estamos em 2022, vamos entender melhor cada um deles:

Inflação
Ao longo de 2021 a economia mundial conseguiu repor boa parte das perdas acumuladas em 2020, quando a pandemia paralisou economias inteiras. O problema se deu no segundo semestre, quando um arrefecimento do ritmo de retomada foi verificado em países da Europa, China e os Estados Unidos. Alguns motivos foram decisivos para essa perda de força, mas a inflação foi determinante em todas as nações – inclusive no Brasil. Em alguns países, a alta dos preços está diretamente ligada ao aumento da demanda, como nos Estados Unidos. Na Europa, parte da inflação está justificada no crescimento dos preços dos alimentos, muito em função de um reabastecimento mais moroso. No caso do Brasil e outros emergentes, a inflação está pressionada pelo dólar e a desvalorização da moeda local. Seja qual for o motivo, enquanto a inflação segue alta, a retomada pulsante da economia será prejudicada.

+ Projeção para 2022: fim do governo Bolsonaro será o melhor Auxílio Brasil 

Cadeia de abastecimento
O problema da ida e vinda de produtos pelo mundo é outro fator que deixa em alerta o mercado internacional. Pelo que se notou em 2021, problemas em portos, falta de contêineres e, em especial, a falta do produto foi determinante para que a economia não atingisse a retomada global esperada. Esses problemas não serão totalmente resolvidos em 2022. Ainda que o transporte marítimo e aéreo esteja mais próximo da normalidade, o atraso na fabricação de eletrônicos na China continuará deixando toda a cadeia a ver navios. Setores como de celulares, automóveis, televisores, videogames e notebooks estão entre os afetados. No lado da alimentação, houve uma diminuição média de 7,8%, segundo dados da FAO, na exportação de alimentos para consumo humano em 2021 quando comparado ao período que antecedeu a pandemia. Essa queda só não foi sentida no Brasil porque somos exportadores e porque o dólar está valorizado.

Variantes e vacinação global
Com a chegada da variante Ômicron o mercado voltou a pensar na importância da imunização global, e não apenas por país. Isso porque a chegada de novas variantes sacode o mercado e atrapalha a retomada. Nesse sentido, a criação de um projeto mundial de imunização em massa deve ser o foco em 2022. Em relatório, a OCDE antecipou que, ainda que a Ômicron não seja capaz de derrubar a economia, é preciso estar atento com futuras variantes e seu desempenho. Mais otimistas, estrategistas do JP Morgan revelaram no relatório de dezembro que a chegada desta variante (mais contagiosa e menos letal) pode acelerar o enfraquecimento da pandemia, em especial em nações já previamente vacinadas. Em outubro, o FMI fez uma projeção preocupante: se as variantes derrubarem a economia no médio prazo, o PIB global pode perder U$S 5,3 trilhões.

Fator China
Depois de uma retomada meteórica, a desaceleração chinesa é um problema para a economia global. No início de 2021, o crescimento de 8% do país asiático em 2020 antecipava que a demanda chinesa por produtos ajudaria a sustentar o crescimento global, mas problemas dentro da nação minaram esse otimismo. O principal ponto de atenção de analistas nesse momento são as investidas do governo chinês contra conglomerados locais, em especial os de tecnologia. O presidente Xi Jinping deixou claro em novembro que nenhuma empresa chinesa poderá ter mais influência do que o Estado comunista, o que esfriou mercados financeiros por todo o mundo.  Os alvos pareciam ser a Alibaba e Tencent, mas a dívida gigantesca da Evergrande e o papel do governo na condução de soluções mostram que o buraco é mais profundo, e outras empresas podem ter problemas em 2022.

Juros e investimentos nos EUA
Depois de um longo período zerado, o aumento dos juros nos Estados Unidos a partir de março de 2022 colocou os mercados em alerta. A maior economia do mundo, ao subir sua taxa básica de juros, volta a se tornar atraente para o capital estrangeiro, principalmente em um momento de incerteza econômica global. Essa sinalização do Federal Reserve se soma ao anúncio, em novembro, do chamado tapering, gatilho econômico que reduz o ritmo de liberação de recursos para ajudar os Estados Unidos a ultrapassar a crise. O objetivo é dar mais liquidez ao mercado interno, mas provoca, em um efeito cadeia nas nações dependentes da economia americana.

Tensões geopolíticas
Mesmo que a pandemia caminhe para uma resolução em 2022 algumas tensões que esquentaram o debate entre nações tradicionalmente distantes deve continuar nos próximos anos. Uma das principais envolve os Estados Unidos e a Rússia, e possui agora o tempero de outros países asiáticos, que têm se mostrado de lados diferentes nesta disputa. O estopim gira em torno da recente aproximação de soldados russos na fronteira da Ucrânia. Sanções econômicas já começam a ser desenhadas caso uma ofensiva aconteça. Se confirmado, o mercado internacional prevê que haverá uma pressão dos membros da Otan que estão no leste, o que acarreta em um desequilíbrio do mercado de petróleo e pode elevar ainda mais os preços do barril. Outro foco de atenção envolve Estados Unidos e China, principalmente na relação com Taiwan, com Washington alertando Pequim contra a mudança unilateral do status quo sobre o território da ilha. O boicote dos EUA aos Jogos Olímpicos de Inverno, em Pequim, deixou o clima ainda pior. Para América do Sul a tendência da vez é acordo comercial com a União Europeia, emperrado pela tensão entre Brasil e França e divergências do presidente Jair Bolsonaro na condução de uma política clara e eficiente para a questão do clima e do meio ambiente.